Economia

Metade da América teme recessão, mas mercados apostam em subida gigante dos juros pela Reserva Federal

Cinco dos 12 'distritos' do sistema da Reserva Federal norte-americana indicaram que "há preocupação com o risco de recessão", segundo o "Livro Bege"

A Reserva Federal norte-americana lidera o aperto da política monetária nas economias do G7

A moda de aumentos históricos dos juros dos bancos centrais das economias desenvolvidas em 100 pontos-base (1 ponto percentual) pode pegar. O Banco do Canadá decidiu na quarta-feira uma subida de 100 pontos-base na sua taxa diretora, a maior subida desde 1998, e os mercados de futuros da taxa da Reserva Federal norte-americana (Fed) apontam, esta quinta-feira, para 79% de probabilidade de um aumento da mesma dimensão na próxima reunião, a 27 de julho.

O super aumento previsto pelo mercado de futuros da CME Watch Tool contrasta com o facto de quase metade dos Estados Unidos se revelarem "preocupados com o risco de recessão", segundo o balanço feito pelo "Livro Bege" publicado na quarta-feira pela Fed.

Cinco em doze "distritos" do sistema da Reserva Federal (que abrangem o continente dos EUA e ainda o Alasca e as ilhas do Pacífico e do Atlântico) assinalam esse risco e "vários distritos mostram sinais crescentes de abrandamento na procura".

O Fundo Monetário Internacional, na análise publicada na quarta-feira à economia norte-americana, reviu em baixa o crescimento para 2022: de 2,9% para 2,3%.

Apesar do horizonte de abrandamento ou mesmo recessão, a pressão política é cada vez maior para subidas significativas na taxa diretora do banco central.

A inflação em junho subiu para 9,1%, um recorde desde novembro de 1981, no outro surto inflacionista anterior. Um nível de subida dos preços superior ao registado na zona euro no mês passado (8,6%). A bolsa de ações reagiu mal: caiu 0,4% na quarta-feira e acumula uma descida de 2,7% nas últimas quatro sessões.

O peso dos 'falcões' dentro da Fed é agora arrasador, segundo o portal In Touch Markets: 10 (incluindo o próprio presidente Jerome Powell) contra 4 'pombas' e 4 de charneira.

A concretizar-se na próxima reunião uma subida de 100 pontos-base, ao estilo canadiano - em vez dos 75 pontos-base antecipados pelos analistas -, a taxa diretora nos EUA chegará ao final do ano perto dos 4%, segundo as probabilidades da CME Fed Watch.

O diferencial com o Banco Central Europeu (BCE) será, então, significativo - mesmo que Christine Lagarde e o conselho apostassem em subidas de meio ponto percentual em cada uma das quatro reuniões até final do ano (começando pela próxima, a 21 de julho), a taxa diretora do BCE chegaria apenas a 2% no final do ano e a taxa de remuneração dos depósitos dos bancos sairia de negativo (atualmente em -0,5%) para 1,5%.

A pressão para a depreciação do euro face ao dólar acentuar-se-á. Esta semana chegou à paridade, e desceu ligeiramente até abaixo do dólar durantes as sessões de terça e quarta-feira, o que já não se registava desde 2002.

Em julho, já subiram taxas de juro 14 bancos centrais, com destaque para cinco de economias desenvolvidas: Canadá, que aumentou 1 ponto percentual, e Austrália, Coreia do Sul, Israel e Austrália que subiram meio ponto percentual.