Economia

“Se agora estamos com problemas em garantir comida a 7,9 mil milhões de pessoas, imaginem quando formos 10 mil milhões”

David Beasley, diretor executivo do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, diz que é urgente abrir os portos ucranianos para fazer chegar comida aos países mais necessitados

TIKSA NEGERI/REUTERS

“O mundo enfrenta a pior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial”, garante David Beasley, diretor executivo do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, durante a sessão dedicada à segurança alimentar, realizada esta segunda-feira no Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça.

Este responsável nota ainda que, se o mundo, agora, não consegue garantir comida para uma população de 7,9 mil milhões de habitantes, “imaginem como será quando formos 10 mil milhões?”

D.R.

David Beasley lembrou que já há algum tempo – muito antes de haver guerra na Ucrânia – que vinha alertando sobre uma crise alimentar global e, “quando todos nós pensávamos que as coisas não poderiam piorar, o próprio celeiro do mundo [Ucrânia] tem as filas para o pão mais longas do planeta”.

Na verdade, e segundo aquele alto responsável das Nações Unidas "estamos a pegar na comida dos famintos para dar aos famintos [em especial a alguns países africanos, também eles confrontados com guerras]. E alerta que uma “tempestade perfeita” como aquela em que agora nos encontramos a nível económico e geopolítico significa que os problemas da disponibilidade de alimentos “podem afetar a todos”.

E, no entanto, “não há bala de prata ou uma solução fácil", com fez questão de sublinhar Mariam Mohammed Saeed Al Mheiri, ministra de Mudanças Climáticas e Meio Ambiente, e membro do Gabinete do Primeiro Ministro dos Emirados Árabes Unidos. “Todos precisam de trabalhar juntos em toda a cadeia de fornecimento de alimentos, desde dos produtores aos consumidores”, até porque, conclui, “resolver a crise global de alimentos é assunto de todos".

Para já, e para começar, “seria absolutamente fundamental, diria ‘urgente’ que os portos da Ucrânia fossem reabertos e que os cereais ali armazenados pudessem começar a ser enviados para os locais mais necessitados. Não resolve o problema da segurança alimentar mundial, mas seria uma ajuda preciosa e acabaria por promover alguma estabilidade”, refere David Beasley.

Por outro lado, Erik Fyrwald, presidente executivo da Syngenta, multinacional especializada em sementes e produtos químicos para o agronegócio, garante que África tem condições para alimentar o mundo inteiro, assim haja ali estabilidade política e paz [pois há muitos países com conflitos como Moçambique ou a República Centro Africana]. Mas também seria importante, segundo o gestor, que houvesse acesso a financiamento e que fossem dadas aos africanos as ferramentas e a tecnologia de que precisam para por as terras a produzir.

O responsável da Syngenta nota também que por cada 1% a mais na população mundial afetada pela fome são mais 2% no aumento dos movimentos migratórios globais.