Economia

Centeno dá a Medina menor dividendo do Banco de Portugal desde 2016

O balanço do Banco de Portugal disparou em 2021, num ano em que o resultado líquido recuou pelo terceiro ano consecutivo. Lucro e dividendo para o Estado descem aos valores mais baixos desde 2016

Apresentação de resultados do Banco de Portugal, feita pelo governador Mário Centeno.Foto Ana Baião
Ana Baiao

O lucro do Banco de Portugal (BdP) deslizou em 2021, sendo mesmo o valor mais baixo dos últimos cinco anos. Foram 508 milhões de euros de resultado líquido, que comparam com os 535 milhões de euros obtidos no ano anterior, de acordo com o relatório e contas divulgado esta terça-feira, 17 de maio, e apresentado, no Carregado, pelo conselho de administração do BdP.

Longe vão os lucros superiores a 800 milhões de euros que a autoridade bancária obteve em 2018, mas também já se antecipava que viessem a ceder.

Aliás, é preciso recuar até 2016 para encontrar um resultado líquido de montante inferior (441 milhões de euros). De qualquer forma, o supervisor liderado por Mário Centeno ressalva que o valor é 42 milhões acima daquilo que estava orçamentado.

Como o Banco de Portugal entrega 80% do seu resultado em dividendos ao Estado, este é também o montante mais baixo enviado para o Orçamento do Estado desde 2016 – quando o governador Mário Centeno era ainda ministro das Finanças.

Pelos resultados de 2021, serão enviados como dividendos 406 milhões de euros para o Estado, que vão ajudar o orçamento de Fernando Medina. “Considerando o imposto sobre o rendimento corrente, foram entregues ao Estado 639 milhões de euros”, acrescenta o comunicado de imprensa do supervisor.

De qualquer forma, os lucros e os dividendos ficaram acima daquilo que constava do orçamento do banco, que esperava dividendos de 367 milhões de euros. Os ativos sob gestão (como o ouro) pelo banco tiveram um melhor desempenho.

Balanço dispara

Para esta descida dos lucros contribuiu, em grande medida, a margem dos juros – que tinha sido o indicador a animar nos anos anteriores. O Banco de Portugal paga mais juros nas operações de refinanciamento dos bancos comerciais, e também por ter aumentado o volume e a bonificação das taxas nas operações de compra de ativos (TLTRO III) em 2021.

A provisão para riscos gerais permaneceu intacta no ano passado, como vem acontecendo.

Este comportamento deu-se num ano em que, mais uma vez, o balanço do Banco de Portugal engordou devido às políticas do Banco Central Europeu. De 2017 até 2022, os ativos de política monetária quase duplicaram.

“No final de 2021, o balanço do Banco de Portugal ascendia a 219 mil milhões de euros, o que traduz um significativo aumento face ao ano anterior, na ordem dos 27 mil milhões de euros, decorrente do quadro de medidas de política monetária antes referido”, indica o comunicado.

Ouro passa de Nova Iorque para França

O ouro também se valorizou em 808 milhões de euros, graças à evolução positiva da cotação da onça de ouro em euros. “A reserva de ouro do Banco de Portugal ascendia a 19.796 milhões de euros no final de 2021”

A quantidade da reserva de ouro do supervisor manteve-se inalterada nas 382,6 toneladas, sendo em 2021 houve mexidas na sua localização. "Foi deslocalizado o ouro depositado na Reserva Federal (FED) de Nova Iorque, para o Banco de França, com o objetivo de obter rentabilidades futuras e passar a sua localização para o Eurosistema".