"As cadeias de distribuição não podem continuar a assistir passivamente ao previsto desaparecimento da produção nacional, não acompanhando o esforço já suportado pela indústria do aumento dos custos de produção". Esta é a mensagem principal que a ANIL - Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios quer transmitir num comunicado divulgado esta quinta-feira a alertar para o quadro de crise no sector.
"Ou pagam mais ou o sector morre", assume ao Expresso Maria Cândida Marramaque, diretora-geral da ANIL.
"Tendo em conta os aumentos de custos dos fatores de produção, a indústria já aumentou o preço de aquisição de leite aos produtores em 9,5 cêntimos por litro desde outubro de 2021, o que representa uma subida superior a 30%. Na tabela atual, o preço médio que pagamos já está nos 35,6 cêntimos por litro de leite, mas este mês vai passar para os 40 cêntimos. Se pensarmos que a embalagem custa mais de 10 cêntimos, não é possível continuarmos a ter leite das marcas de distribuição nas superfícies comerciais a 52 cêntimos", explica.
A posição da indústria é clara e indica que o consumidor final terá de pagar mais pelo leite: "se os ajustes de preços das matérias-primas e energia neste momento são constantes, temos de negociar e renegociar com a distribuição também de forma constante", sustenta a representante da ANIL, indicando que o preço de venda ao pública do litro de leite das marcas dos fabricantes já tem como ponto de partida os 58 cêntimos.
Problema também abrange o queijo e iogurte
O comunicado faz uma referência especial à cadeia alemã Lidl. Há algum problema especial com esta marca? Maria Cândida responde: "O que se passa é que estamos a falar de uma cadeia que trabalha muito com marcas de distribuição e os nossos associados falam especialmente desta insígnia".
E para além do leite, na base do problema, a diretora-geral destaca que "estão em causa os preços de todos os lacticínios, queijo e iogurtes incluídos".
A fundamentar a posição agora assumida, o comunicado refere "a absoluta necessidade de expor a situação de grande desespero que a indústria de lacticínios vive nesta altura, pela impossibilidade de conseguir repercutir nos seus preços de venda os importantes aumentos de custos, de diversa natureza (matéria prima, embalagens, energias, entre outras)".
"Falência de muitas empresas" é uma ameaça
"A não transmissão destes aumentos de custos ao longo da cadeia não é sustentável", sublinha a ANIL, antecipando que o quadro atual "a curto prazo levará ou à falência de muitas empresas, com as evidentes consequências sociais para os seus trabalhadores e com real impacto no abastecimento de lacticínios nacionais ao mercado".
"Não modificar de imediato esta política de desvalorização dos produtos lácteos, deixará a indústria de lacticínios nacional sem capacidade de fazer face aos seus compromissos de abastecimento do mercado nacional"
Retroceder nos aumentos já pagos à produção poderia até ajudar a indústria a resolver o problema, mas "este retrocesso teria consequências obviamente nefastas ao nível da produção de leite e da sobrevivência dos próprios produtores", destaca.
Manter o quadro atual, na opinião da ANIL, "denota uma total falta de respeito pelos esforços que a indústria está a fazer para manter a produção e a atividade da fileira do leite em Portugal".
Por isso, o comunicado precisa aquilo que o sector espera das cadeias de distribuição: "assumindo as suas responsabilidades enquanto atores últimos da fileira, terão que considerar a absoluta necessidade de subida de preços, particularmente ao nível das marcas de distribuição, traduzindo-o em valor aceitável pelo consumidor".
"Não modificar de imediato esta política de desvalorização dos produtos lácteos deixará a indústria de lacticínios nacional sem capacidade de fazer face aos seus compromissos de abastecimento do mercado nacional", conclui.