Apesar de ter ganho a pasta do mar, António Costa Silva, o novo ministro da Economia, recebe um Ministério que tem vindo a esvaziar-se. Já tinha perdido a energia quando passou dos ministros Manuel Caldeira Cabral para Pedro Siza Vieira e agora perde a digitalização, que fica na tutela direta de António Costa mas é considerada um instrumento relevante na articulação da inovação (que se mantém na Economia) com as startups. Muita da inovação das empresas é digitalização, e sem ela os instrumentos criados ficam coxos. O novo ministro mantém a área do turismo — relevantíssima para a economia portuguesa — e o comércio e serviços. E se a tutela do mar lhe dá a possibilidade de trabalhar numa área que lhe é cara e sobre a qual tem experiência, vem sem as pescas e sem os portos, o que limita o seu raio de ação. O que poderá fazer Costa Silva para dinamizar um recurso que Portugal não tem sabido explorar nas últimas décadas é a questão que se coloca. “Sempre que se virou para o mar, o país prosperou”, chegou a dizer numa entrevista.
Pôr a economia a crescer de forma sustentável, resolvendo os nós que há anos dificultam o investimento e a criação de riqueza, não será tarefa fácil, a que acresce um novo desafio: a guerra na Ucrânia, com consequências já visíveis no aumento dos preços da energia e das matérias-primas. Mas se há alguém com a lição estudada sobre as vias potenciais para o crescimento da economia é António Costa Silva. Foi ao novo ministro que foi pedida a elaboração da Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, que está na base do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). E ainda que não tenha ficado com a pasta dos fundos europeus — o PRR ficou com a ministra Mariana Vieira da Silva —, cabe-lhe, nessas funções, tentar puxar pela economia — e pelo sector da energia, no qual é especialista. Só que nesta fase é a situação de emergência e a coordenação dos apoios às empresas que terá de concentrar as suas atenções. Os pedidos vêm de várias áreas e são conhecidos — a CIP tem insistido no regresso do lay-off simplificado, algo que o Governo já recusou. Dificilmente se conseguirá chegar a todo o lado. Em julho de 2020, Costa Silva tinha já o diagnóstico feito, conforme disse ao Expresso: “Um mercado interno limitado; inúmeras empresas descapitalizadas e que se financiam através de dívida; um Estado com uma dívida pública elevada que funciona muitas vezes como uma ‘espada de Dâmocles’ inibidora do crescimento; uma estrutura produtiva ainda pouco diversificada e que não explora nem desenvolve a capacidade industrial do país; uma produtividade baixa; um nível de fiscalidade desadequado, que limita a capacidade operativa das empresas; um nível baixo de investimento.”