Economia

Economia portuguesa cresce a dois dígitos desde meio de fevereiro e não abranda com a guerra (mas cuidado com as comparações)

A atividade económica está a crescer acima dos 10% face ao ano passado e não abrandou com o conflito militar na Ucrânia, sinaliza indicador do Banco de Portugal. Mas a comparação é feita com um período em que Portugal estava no segundo confinamento geral

Foto: Getty Images

A economia portuguesa cresceu a dois dígitos face ao ano passado entre meados de fevereiro e meados de março e não dá sinais de abrandamento por causa da guerra na Ucrânia, sinaliza o indicador diário de atividade económica (DEI), calculado pelo Banco de Portugal (BdP), e cujos dados foram atualizados esta quinta-feira. Mas os valores do DEI têm de ser lidos com cautela, porque há um efeito de base importante a considerar: na mesma altura do ano passado o país estava ‘fechado’ no segundo confinamento geral para travar a pandemia de covid-19, o que ditou uma quebra da atividade.

Segundo uma nota publicada pelo BdP na sua página da internet, “na semana terminada a 13 de março, o indicador diário de atividade económica (DEI) aponta para uma taxa de variação homóloga da atividade similar à observada na semana anterior”.

Nessa semana – que abrange o período entre 7 de março e 13 de março – a média móvel semanal do DEI indica um crescimento homólogo da atividade económica de 12,9%. Isto depois de na semana anterior – que abrange o período entre 28 de fevereiro e 6 de março – registar uma expansão de 13,2%. Já na semana entre 21 de fevereiro e 27 de fevereiro, marcada pelo início do conflito militar na Ucrânia (a 24 de fevereiro), o DEI sinalizar um crescimento da atividade económica em Portugal de 10,9%.

O dados do Banco de Portugal indicam que o DEI está a crescer a dois dígitos desde meados de fevereiro e a atividade económica em Portugal não abrandou com a guerra na Ucrânia.

Estes números expressivos são, contudo, influenciados pelo efeito de base: na mesma altura do ano passado Portugal estava em confinamento geral – iniciado a 15 de janeiro e que só terminou, precisamente, em meados de março.

O Banco de Portugal calcula ainda a taxa trienal do DEI que traduz o crescimento acumulado num período de três anos. Esta taxa, na semana terminada a 13 de março, “estabilizou”, escreve o BdP. Além disso, indica um crescimento de 3,4%, sinalizando que a atividade económica em Portugal ficou acima do registado na mesma semana de 2019, antes da pandemia de covid-19. A taxa trienal está em valores positivos desde meados de fevereiro, sinalizando que, desde essa altura, a atividade económica em Portugal tem estado acima do patamar pré-crise pandémica.

O DEI é um indicador compósito, calculado pelo BdP, que reúne dados de alta frequência e procura traçar um retrato, quase em tempo real, da evolução da atividade económica em Portugal. Assim, cobre diversas dimensões, sumariando a informação das seguintes variáveis diárias: tráfego rodoviário de veículos comerciais pesados nas autoestradas, consumo de eletricidade e de gás natural, carga e correio desembarcados nos aeroportos nacionais e compras efetuadas com cartões em Portugal por residentes e não residentes. Os dados são habitualmente atualizados à quinta-feira pelo BdP.

Atividade económica acelera ou estabiliza em fevereiro?

Os dados do DEI, apurados pelo banco central, indicam uma aceleração da atividade económica no país em fevereiro, face ao ano passado, por comparação com o registado em janeiro. Contudo os indicadores coincidentes, também publicados esta quinta-feira pelo BdP, apontam para uma estabilização.

"Em fevereiro, o indicador coincidente mensal para a atividade económica apresentou uma taxa semelhante à do mês anterior", escreve o BdP numa nota publicada na sua página da internet.

Este indicador, que procura captar a tendência de evolução subjacente ao Produto Interno Bruto (PIB), cresceu 5,5% em fevereiro em relação ao mesmo mês do ano passado. Um valor igual ao apurado pelo BdP para o mês de janeiro, mas acima dos 5,3% de dezembro do ano passado, dos 5,2% de novembro do ano passado, e dos 5,1% de outubro do ano passado. A tendência dos últimos meses tem sido, assim, de aceleração.

Já no que toca a taxa de variação homóloga do indicador coincidente para o consumo privado (que procura captar a evolução subjacente ao consumo privado) "voltou a diminuir" em fevereiro, escreve o Banco de Portugal.

Este indicador regista uma taxa de variação homóloga de 4,8% em fevereiro, o que compara com 5,4% em janeiro, com 5,9% em dezembro do ano passado, com 6,4% em novembro do ano passado, e com 6,8% em outubro do ano passado. A tendência é, assim, de abrandamento.

A guerra está a levar à revisão em baixa do crescimento, em Portugal, na zona euro e nos Estados Unidos, e não trava a subida das taxas de juro que os bancos centrais já tinham antecipado.