As funcionárias da Caixa Geral de Depósitos, em média, levam para casa, ao final de cada mês, menos 460 euros brutos do que os seus colegas homens, de acordo com o relatório sobre remunerações no maior banco do sistema, publicado em janeiro e consultado pelo Expresso a propósito do Dia Internacional da Mulher, que se celebra esta terça-feira, 8 de março.
O banco de capitais exclusivamente públicos tem mais mulheres a trabalhar (60,9% dos trabalhadores são mulheres), e o nível de habilitações é superior também no género feminino (63,9% dos trabalhadores com formação académica superior são mulheres). Porém, quando se olha para o salário, a diferença é favorável aos homens.
“A remuneração anual média na CGD aumentou +1.175 euros/colaborador, evoluindo de 35.432 euros para 36.607 euros entre 2020 e 2021, sendo que as mulheres recebem, anualmente, uma remuneração média de 34.081 euros e os homens, 40.544 euros”, indica o relatório disponibilizado pelo banco presidido por Paulo Macedo. As mulheres registaram um ganho anual de 1.125 euros, enquanto os homens tiveram um aumento maior: 1.351 euros.
Há, portanto, uma diferença entre os géneros de maior dimensão no último ano: são 6.463 euros anuais, número maior do que os 6.237 euros de diferença de 2020. Dividindo este valor por 14 meses em que normalmente são pagos os salários, chega-se a 462 euros mensais brutos.
No universo de trabalhadores com menos de 30 anos, as mulheres até ganham mais que os homens (42 euros anuais de diferença), mas à medida que a idade aumenta o fosso salarial agrava-se – chega a ser superior a 8 mil euros anuais para os funcionários acima dos 50 anos. Tanto na gestão, como nos quadros técnicos e no pessoal operacional de apoio o vencimento das mulheres fica aquém do dos homens, sendo que, claro, é nas posições superiores que há maior distinção.
Administração com paridade nos salários
Sendo o maior banco do sistema financeiro português, estes são números que servem de indicador do que acontece nas restantes entidades do sector, sendo que a CGD é até aquele que mais mulheres chama para a sua comissão executiva e conselho de administração. Por imposição legal (integra o sector empresarial do Estado), a Caixa tem de elaborar um relatório sobre as diferenças salariais por género a cada três anos e o último é este que data de janeiro de 2022, tendo como referências os vencimentos atribuídos no final de 2021 (que incluem remunerações fixas, variáveis e subsídio de refeição).
Dos 17 membros da administração, seis são mulheres, o que corresponde a 35%. Dentro da administração há uma comissão executiva, em que há três mulheres em oito elementos. “De salientar que a CGD na sua composição do Conselho de Administração tem das percentagens mais elevadas da banca e das empresas de grande dimensão a operar em Portugal do género sub-representado”, justifica o banco no relatório. Com a mudança de mandato no ano passado, a representatividade feminina melhorou na CGD. Mas há um senão.
“Ao nível da remuneração média anual entre mulheres e homens, constata-se que existe uma paridade nos administradores executivos [326 mil euros anuais] e nos administradores não executivos [98 mil euros anuais]”, especifica o documento, que mostra, porém, que tanto o presidente executivo (423 mil euros) como o presidente do conselho de administração (326 mil euros) e o presidente da comissão de auditoria (119 mil euros) são homens. O que estraga a média.
Assim, em média, as mulheres auferem, nestes cargos de topo, uma remuneração média de 212 mil euros, enquanto os homens chegam aos 233 mil euros.
Ainda assim, esta é uma diferença bastante menos relevante do que a registada no ano anterior, quando estava em atividade a equipa de administração anterior, com menos mulheres: aí, os 115 mil euros pagos a mulheres nestas posições comparavam com a remuneração média de 233 mil euros atribuída aos homens.
Mais mulheres na gestão
“Aumentar a percentagem de mulheres em funções de gestão” e “assegurar o princípio de salário igual para trabalho igual ou de valor igual”, que será conseguido com uma “análise interna, e de uma revisão (se necessária), do sistema de análise de funções”, são alguns dos passos que a CGD pretende dar para inverter a desigualdade salarial entre géneros nos seus quadros. A desigualdade não é uma novidade – e o Expresso já tinha escrito há meses sobre os planos de igualdade que a CGD, por ser pública, e o BCP, por ser cotado, tiveram de fazer para promover o efetivo pagamento equilibrado entre géneros.
A banca é, tal como a generalidade da economia, um mundo de diferença salarial entre homens e mulheres, sendo que há regras que têm vindo a ser impostas – sobretudo ao nível dos conselhos de administração – para tentar inverter a posição. E tudo já foi pior: por exemplo, como também já foi escrito pelo Expresso, a Parvalorem, empresa estatal que herdou trabalhadores e ativos tóxicos do antigo BPN, paga em média menos 1000 euros a mulheres do que a homens devido ao peso destes últimos nos cargos diretivos.