A operação do Abanca em Portugal superou os objetivos que Espanha desenhou para o ano passado. A contratação de crédito à habitação e a subscrição de produtos como fundos de investimento foram metas que ajudaram a que a margem financeira e as comissões subissem mais de dois dígitos face ao ano anterior. Portugal é uma zona onde o banco continua interessado em crescer – está, confirmou o seu presidente, a negociar mais uma compra, do EuroBic.
Foi assim que, no quarto trimestre, a atividade portuguesa “bateu os objetivos de financiamento e captação de recursos”, de acordo com a apresentação de resultados de 2021 que teve lugar na Galiza esta quarta-feira, 2 de fevereiro. Não há muitos dados sobre a operação – como é uma sucursal, e não um banco autónomo, nunca é divulgado o lucro.
Sabe-se que a contratação de crédito à habitação do Abanca – que em 2018 comprou a rede portuguesa que pertencia ao Deutsche Bank – ficou 58% acima da meta e que as subscrições de produtos fora de balanço (seguros ou fundos, que não depósitos) ultrapassaram em 26% o objetivo.
Além disso, “há um bom desempenho nas linhas de proveitos do negócio em Portugal”: crescimento de 17,3% da margem financeira (diferença entre juros cobrados em créditos e juros pagos em depósitos) e de 12,3% das comissões. “Portugal é um país especialmente estratégico”, sintetizou Juan Carlos Escotet, o presidente do Abanca, em conferência de imprensa.
EuroBic? A olhar
Os números de Portugal representam 10% do resultado obtido pelo grupo, e como tem vindo a superar o previsto o número deverá crescer ainda mais. Para isso, poderão ajudar as operações de fusões e aquisições que nunca deixam de estar na mira deste grupo.
O Jornal Económico noticiou já que há negociações exclusivas entre o banco espanhol para a aquisição do EuroBic, mas Escotet não foi tão longe na confirmação. Disse que é um “processo competitivo”, admitiu que “há vários participantes”. “Não somos os únicos”. Seja como for, o Abanca está melhor posicionado que o Novo Banco, outro dos interessados, e que os fundos internacionais sem licença bancária, como noticiou o Expresso.
O Abanca já tinha estado na corrida pelo banco, chegou a haver acordo assinado em 2020, mas acabou por falhar devido ao preço. Um ano depois, voltou a olhar para o banco e agora assume claramente que está nessa corrida – nos últimos tempos, recusava-se sempre a comentar o processo.
Margem para crescer
“Portugal tem uma importância relevante, é um mercado que vem crescendo bem, há um sistema bancário muito saneado, com uma taxa de crescimento interessante, muito em sintonia com a macroeconomia”, disse o líder da instituição financeira, que, com um rácio de capital total do banco de 16,9%, tem uma folga considerável: 1,5 mil milhões de euros de excesso de capital face ao mínimo exigido.
“A nossa estratégia de crescimento é uma combinação de crescimento inorgânico e orgânico. Ambos, nestes últimos anos, alcançaram números importantes. Já são seis integrações, seguimos abertos e muito atentos ao que está a ocorrer no mercado”, declarou Escotet, frisando contudo que só fazem compras de entidades que sejam “complementares à estratégica” e que tenham presença na zona onde quer estar, “a Península Ibérica”. Com sede na Galiza, tem comprado bancos por Espanha, e foi com o Novo Banco Espanha que conseguiu penetrar em Madrid (a integração informática deste banco fica concluída em 2022).
Alívio de provisões e fim de moratórias
Os números de Portugal beneficiaram o grupo, que, em 2021, obteve lucros de 323 milhões de euros, um resultado que representa uma duplicação face ao ano anterior. “Um ano francamente bom, por termos saído reforçados da crise”, classificou Juan Carlos Escotet. Portugal dá uma ajuda de 10%, como referido.
O grupo registou um crescimento da margem financeira (+5%) e das comissões (+10%), mas os resultados em operações financeiras deslizaram (-50%). Foi o alívio nas provisões e imparidades que permitiu que o lucro duplicasse. As aquisições também ajudaram.
O fim das moratórias também não preocupa este grupo bancário que tem presença nos vinhos (Sogevinus) ou no desporto (Deportivo, em Espanha), que diz que o malparado foi de 2,4% desses empréstimos. Em toda a carteira, a taxa está em 2,1%.