Economia

Covid-19. "É um choque emocional. Ficamos um bocado com a sensação de voltar atrás", diz indústria

A Distribuição considera o pacote de medidas apresentado por António Costa "prudente". Restauração, Bares e Discotecas saúdam o facto de não haver restrições nos horários nem na lotação dos espaços. Indústria receia impacto negativo do teletrabalho e do prolongamento das férias escolares nos fluxos produtivos

SERGIO AZENHA / NFACTOS (EXCLUSI

"É um choque emocional. Ficamos um bocado com a sensação de voltar atrás contra todas as expetativas criadas com a vacinação". Foi assim que o presidente da AEP - Associação Empresarial de Portugal, Luís Miguel Ribeiro, recebeu a mensagem do primeiro-ministro sobre as medidas de combate à pandemia de covid-19.

O dirigente associativo admite "ser responsável haver prudência e mostrar que se aprendeu com os erros do passado", mas antecipa que a recomendação do teletrabalho em dezembro e a obrigatoriedade de adotar esta prática na primeira semana de 2022 "implicará certamente muitos ajustes nas empresas e pode ter consequências nos fluxos de produção".

Ainda à espera de conhecer todos os pormenores sobre as medidas anunciadas esta quinta-feira por António Costa, sublinha que com o prolongamento das férias escolares, a indústria antecipa já "a ausência de muitos trabalhadores que terão de ficar em casa a tomar conta dos filhos, com o consequente impacto na produção".

Já Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED - Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição considera o pacote de medidas apresentado pelo primeiro-ministro, António Costa, "prudente, pelo menos à primeira vista", mas sublinha que tal como no passado, quando o sector vivia "na angústia das quintas-feiras", sem saber exatamente aquilo que seria exigido nos dias seguintes, será preciso aguardar para ver os detalhes em Diário da República e esclarecer algumas questões, designadamente o que se exige em termos de controlo de certificados covid em espaços de restauração/cafetaria nas superfícies comerciais.

Teletrabalho? "tem tudo a ver com o prolongamento das férias escolares"

Quanto à semana de teletrabalho obrigatório, "tem tudo a ver com o prolongamento das férias escolares e garantir que os pais ficam em casa a tomar conta dos filhos", comenta.

Na restauração, Daniel Serra, da Pro.Var - Associação Nacional de Restaurantes, olha para o anúncio de António Costa como "um conjunto de boas notícias, atendendo ao facto de não estar em causa limitações de lotação nem de horários, em especial quando se aproxima o Natal, com um pico de festas e eventos". É verdade que a questão da obrigação de apresentação de certificado covid para entrar nos restaurantes "representa um problema formal no que respeita à operação, até porque as equipas são curtas e os restaurantes lutam com falta de pessoal", sublinha, ainda sem saber qual será o impacto do regresso ao teletrabalho na procura.

Máscaras em bares e discotecas? "São um excesso"

Na mesma linha, Miguel Camões, presidente da Associação de Bares e Discotecas da Movida do Porto, refere que "a preocupação maior até ouvir António Costa era garantir que não haveria limites na lotação e horários nem encerramento de atividade, como no passado recente".

"Teremos de fechar uma semana, em janeiro, mas isso não é nada considerando todos os meses que tivemos de viver com as portas encerradas", comenta. Manifesta, no entanto, alguma apreensão quanto à forma como os clientes vão reagir à exigência de certificado e teste negativo para entrar nos estabelecimentos e deixa uma nota para o "excesso que representa a exigência de máscara num espaço onde todos tiveram de apresentar certificado de vacinação e fazer um teste à covid-19 para entrar".