Economia

Crédito Agrícola recua e afinal vai reavaliar já idoneidade de 'rei dos frangos' como banqueiro

Crédito Agrícola da Lourinhã tem dez dias para fazer análise a José António dos Santos, chairman da instituição, para concluir sobre a sua idoneidade

Licínio Pina, presidente do Crédito Agrícola
Alberto Frias

Dois dias depois de sair em defesa de José António dos Santos como presidente da administração do Crédito Agrícola da Lourinhã, a Caixa Central do banco cooperativo veio agora publicamente anunciar que, afinal, a sua idoneidade para continuar naquele cargo será reavaliada. A mudança de posição do Crédito Agrícola ocorre depois de o Banco de Portugal ter vindo a público dizer que toda a informação sobre o caso judicial Cartão Vermelho estava a ser "devidamente ponderada".

"A Caixa Central vem por este meio informar que instruiu a Comissão de avaliação da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo da Lourinhã a proceder à reavaliação por factos supervenientes relativos ao atual presidente não executivo do Conselho de Administração daquela instituição", assinala o comunicado enviado às redações esta quinta-feira, 15 de julho, pela Caixa Central do Crédito Agrícola, uma nota intitulada "Crédito Agrícola reavalia idoneidade de José António dos Santos".

O rei dos frangos, como ficou conhecido o empresário dono da Valouro, está há mais de 30 anos à frente do Crédito Agrícola da Lourinhã, tendo sido reconduzido no ano passado para o mandato que termina no fim de 2021. Segundo a comunicação, os factos supervenientes que levam a esta reavaliação são a constituição como um dos quatro arguidos no processo judicial Cartão Vermelho, em que é indiciado pela eventual prática de crimes como burla qualificada, falsificação de documento, branqueamento de capitais, fraude fiscal qualificada e abuso de informação. Como medida de coação, José António dos Santos teve de pagar uma caução de 2 milhões de euros, está impedido de falar com arguidos e com administradores e funcionários do Novo Banco e ficou sem passaporte.

"Com as alterações subsequentes entretanto verificadas, a Comissão de Avaliação da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo da Lourinhã iniciará, nos termos da lei, uma averiguação em sede de avaliação a fim de aferir a idoneidade do responsável", indica o comunicado, que deixa um prazo: "Este trabalho deverá concluir-se nos próximos 10 dias e será determinante para concluir da idoneidade de José António dos Santos no exercício das suas funções". Os banqueiros precisam de ter a sua idoneidade validada para poderem permanecer em funções.

Na terça-feira, já conhecidos todos os factos da imputação do Ministério Público e já depois de conhecidas as medidas de coação, o Crédito Agrícola tinha tido uma resposta completamente diferente em relação ao tema. Ainda que admitindo que poderia exercer "os deveres que tem em função da gravidade eventualmente detetada incluindo a reavaliação superveniente", mas apenas "se necessário", o Crédito Agrícola lembrava que o banqueiro estava há três décadas no banco e que tinha sido aprovado pelo Banco de Portugal para a função.

Porém, depois dessa notícia, o Banco de Portugal veio colocar pressão sobre o Crédito Agrícola, já que são os próprios bancos os primeiros responsáveis por assegurar a sua gestão sã e prudente, e a qualificação e idoneidade dos seus administradores. "Toda a informação está a ser devidamente ponderada pelo Banco de Portugal no exercício das suas competências", respondeu o Banco de Portugal ao Expresso.

O Crédito Agrícola da Lourinhã é uma das mais de 70 caixas autónomas espalhadas pelo país (cada uma delas com várias agências) que pertencem ao grupo cooperativo e que têm como "coração" a Caixa Central, comandada por Licínio Pina.