O presidente do Novo Banco já tinha anunciado e os números confirmam: o Novo Banco obteve lucros nos primeiros três meses de 2021. Foram 70,7 milhões de euros.
No primeiro trimestre de 2020, o banco tinha apresentado prejuízos de 179,1 milhões, e, no mesmo período de 2019, as perdas tinham sido de 93 milhões. Agora, chega ao verde.
O Novo Banco já tinha tido um primeiro trimestre positivo, em 2018, de 60,9 milhões de euros, mas não se estendeu para o resto do ano. A instituição financeira que hoje em dia é controlada pela Lone Star apresentou prejuízos anuais desde a sua constituição, em 2014.
Aliás, por conta do desempenho negativo no ano passado, o Novo Banco vai receber 429 milhões de euros do acionista minoritário, o Fundo de Resolução, à luz do mecanismo de compensação criado em 2017.
Como está já na fase de recuperação e não reestruturação, como defende o seu presidente executivo, António Ramalho, a gestão do Novo Banco deixou de apresentar as contas separadas em dois: o lado recorrente e o lado "legacy" (os ativos de que o banco se tenta livrar).
Segundo maior lucro do trimestre
O Novo Banco apresenta o segundo maior lucro trimestre entre os principais bancos, só superado pela CGD, que gerou 81 milhões de euros. O BPI teve 60 milhões, o BCP 57,8 milhões e o Santander 34,2 milhões de euros.
“No primeiro trimestre de 2021, o Novo Banco atinge resultados positivos no valor de 70,7M€, representando uma mudança de paradigma decorrente da conclusão do processo de reestruturação em 2020”, indica o banco no comunicado de resultados.
Dívida pública e swaps ajudam lucros
O produto bancário mais do que duplicou para 273,5 milhões de euros, graças a uma subida de 12% na margem financeira (diferença entre juros cobrados em créditos e juros pagos em depósitos) e apesar do deslize de 7,5% nas comissões cobradas a clientes. Porém, o grande impulso veio dos resultados de operações financeiras, que tinham dado um contributo negativo em 2020, de 94 milhões, para agora terem um peso positivo de quase 53 milhões. O banco justifica com a gestão de títulos de dívida pública e empresarial e com os instrumentos de cobertura de risco (swaps).
A contribuir para a melhoria dos resultados está igualmente a descida de 5,1% dos custos (saíram 25 trabalhadores no primeiro trimestre, fechando-o com um quadro de 4557 funcionários, com 357 balcões), e sobretudo, o menor peso da constituição de imparidades e provisões. Pesaram 149 milhões no primeiro trimestre de 2020, e agora apenas 62 milhões, incluindo uma imparidade adicional no âmbito do contexto covid-19 de 21,8 milhões.
Rácio de malparado ainda em 8%
A carteira de crédito perdeu dimensão em 1,1%, totalizando praticamente 25 mil milhões de euros (em termos brutos, antes de imparidades), o que o banco justifica com a alienação da carteira de malparado Wilkinson, de 210 milhões, vendida aos americanos da DK. Cerca de 27%, ou 6,6 mil milhões, encontra-se sob moratórias.
Apesar desta transação, o rácio de crédito malparado está ainda acima do recomendando, representando 8% da carteira (face a 8,9%), quase 2,3 mil milhões de euros. Deste montante, 77% está coberto por imparidades já constituídas.
Já os recursos de clientes superaram os 32 mil milhões de euros, crescendo 1,1%, com os depósitos a aumentarem ligeiramente para 26,2 milhões.
O rácio de capital mais exigente, CET1, está abaixo dos 12%, o indicador definido para eventuais novos pedidos de capital ao Fundo de Resolução, com o rácio CET 1 a estagnar 11,3%, onde estava já em dezembro – este rácio é calculado tendo como base o facto de o Fundo de Resolução ter decidido não injetar os 598 milhões pedidos pelas perdas de 2020, mas apenas 429 milhões, devido à divergência com a contabilização da venda da sucursal espanhola.
O banco e o Fundo têm divergências de 331 milhões de euros a discutir em tribunal arbitral (não só Espanha, mas também a aplicação de uma norma contabilística, o IFRS9), que se foram favoráveis ao banco, terão de ser pagadas pelo Fundo.
atualizada com mais informações pelas 18.33