Economia

Comissão de Inquérito: “Eu não sabia a quem é que ia vender”, diz empresário que colaborou em venda de imóveis do Novo Banco

António João Barão, que criou em 2017 cinco empresas instrumentais usadas pelo fundo Anchorage para comprar milhares de imóveis ao Novo Banco, foi ouvido na comissão de inquérito, onde disse ter várias atividades. "Também sou mágico", afirmou

NUNO BOTELHO

"Eu não sabia a quem é que ia vender", relatou esta sexta-feira António João Barão, empresário que vendeu cinco sociedades imobiliárias a uma empresa do Luxemburgo através da qual o fundo Anchorage adquiriu ao Novo Banco uma carteira de imóveis por 364 milhões de euros, o projeto Viriato.

Ouvido na comissão parlamentar de inquérito do Novo Banco, o empresário do ramo imobiliário disse que não teve nenhum contacto direto com o fundo. "Não foi o fundo que propôs adquirir as minhas sociedades, falou com os advogados, a Morais Leitão, e eles sabiam que eu as tinha", contou António João Barão.

Em causa está a venda de mais de 5 mil imóveis e mais de 8 mil frações pelo Novo Banco no projeto Viriato em outubro de 2018.

Para esse negócio o fundo Anchorage, a partir das ilhas Caimão, utilizou a empresa luxemburguesa AIO, que tratou de previamente adquirir cinco pequenas empresas portuguesas, todas detidas por António João Barão e a sua mulher.

O empresário explica que tinha criado essas cinco empresas em novembro de 2017, todas com a mesma morada em Lisboa, para tentar aproveitar oportunidades de negócios imobiliários.

"Essas sociedades tenho-as às vezes para uso próprio, porque vou a leilões de imóveis. O tal fundo tinha uma certa urgência e pediu-me as sociedades, a partir daí não sei mais nada, se eles iam comprar um imóvel, um terreno ou um hotel", contou António João Barão.

Na comissão de inquérito explicou que o contacto para a venda das cinco empresas à sociedade do Luxemburgo foi feito por um advogado da Morais Leitão, João Torroaes Valente. E garantiu que quando criou as cinco sociedades, que venderia à empresa luxemburguesa por cerca de 5 mil euros cada, desconhecia o fundo Anchorage. "Na altura em que eu as fiz nem eu sabia da existência deste fundo", referiu.

Questionado sobre que relações tinha com o Grupo Espírito Santo, disse que apenas teve conta bancária no BES.

António João Barão admitiu ter participado no passado em outros negócios imobiliários envolvendo investidores estrangeiros e recordou-se de um encontro no hotel Ritz para um dos negócios.

Na comissão de inquérito confessou também ter outras atividades além da criação e venda de sociedades imobiliárias. "Sou pintor, pinto uns quadros de vez em quando. E também sou mágico", referiu aos deputados.

Questionado sobre se vendeu muitas sociedades através da firma Morais Leitão, declarou que vendeu "algumas". Instado a precisar, disse não conseguir lembrar-se do número. E também disse não se lembrar dos nomes das sociedades em que é atualmente sócio-gerente.