A Reserva Federal (Fed)dos Estados Unidos, o banco central, decidiu, na reunião desta quarta-feira, manter sem alterações a estratégia da política monetária, apesar da pressão dos mercados. E, segundo as projeções da maioria dos banqueiros centrais da Fed, a atual taxa de juros de referência do banco central deverá manter-se no intervalo atual próximo de zero (entre 0% e 0,25%) até 2023.
Nos mercados da dívida, os juros dos títulos norte-americanos continuam em alta, estando acima de 1,6% no prazo de referência a 10 anos. A subida desde o verão do ano passado é já de 1 ponto percentual. As previsões para junho deste ano apontam para 2,4%, segundo o algoritmo do portal financeiro World Government Bonds.
Nas novas previsões macroeconómicas publicadas esta quarta-feira, a Fed aponta para um crescimento da economia norte-americana de 6,5% em 2021, muito acima da previsão anterior de 4,2%, avançada na reunião de dezembro passado. A confirmar-se será a taxa anual de crescimento mais elevada dos últimos 37 anos, depois de uma recessão de 2,4% em 2020.
O efeito do pacote da Administração Biden injetando 1,9 biliões de dólares (€1,6 biliões) justifica essa revisão em alta que coloca a dinâmica de recuperação económica nos EUA eventualmente acima da meta política da China. Pequim definiu este mês o objetivo de crescimento para 2021 de um modo ambíguo, referindo-o como "acima de 6%".
A divergência de dinâmica norte-americana com a zona euro vai acentuar-se este ano. A previsão mais recente por parte do Banco Central Europeu aponta para um crescimento de 4% na zona euro, uma diferença significativa de 2,5 pontos percentuais.
A aceleração da recuperação da economia norte-americana é acompanhada por uma subida da inflação, com a Fed a prever, agora, que atinja 2,2% este ano, acima da meta da política monetária (2%). Mas, dentro da flexibilidade introduzida pela Fed no sentido de permitir que a inflação se mantenha temporariamente "moderadamente" acima de 2%, apontando para uma consolidação no médio prazo dentro da meta. A Fed considera esta subida em 2021 como transitória, projetando uma descida da inflação para 2% no próximo ano e uma ligeira subida para 2,1% em 2023. As projeções não anteveem nenhum disparo da inflação, como temem muitos investidores e economistas - a Fed continua a considerar que a variação de preços no consumidor se mantém "ancorada" na meta.
A aceleração económica vai permitir a descida da taxa de desemprego de 6,8% no ano passado para 4,5% este ano e as projeções apontam para uma aproximação ao pleno emprego nos dois anos seguintes, com aquela taxa a cair para 3,5% em 2023.
Apesar do aquecimento da economia norte-americana, a Fed mantém o programa de compra mensal de ativos no valor de 120 mil milhões de dólares (€100 mil milhões), dos quais 70% em títulos de dívida pública.
Os investidores esperam agora as declarações de Jerome Powell pelas 18h30 (hora de Portugal) em conferência de imprensa.