O Santander em Portugal decidiu avançar, formalmente, com dois planos para reduzir pessoal. Um deles é dirigido a todos os trabalhadores com 55 ou mais anos. O outro aponta para os funcionários dos bancos que foram fusionados ou eliminados. O banco sublinha que o plano é de “adesão voluntária”, mas lembra os trabalhadores que já rejeitaram propostas anteriormente que, para eles, este é o “derradeiro plano consensual”.
A nota da comissão executiva, liderada por Pedro Castro e Almeida, chegou esta sexta-feira, 5 de março, aos cerca de 6 000 trabalhadores. “Atualização do plano de transformação do banco” é o título da nota a que o Expresso teve acesso, onde o “contexto transformacional que todo o setor bancário a nível europeu e, necessariamente, também em Portugal, atravessará neste e nos próximos exercícios” é referido como uma das justificações para a formalização dos processos de redução de pessoal. Para já, a comissão de trabalhadores não faz comentários.
O banco já andava a apresentar, há meses, propostas de reformas ou acordos de revogação do contrato de trabalho, num processo que vinha sendo contestado por sindicatos e comissão de trabalhadores, que pediam uma aposta nas reformas, mas também cautela, tendo em conta a pandemia. Só que o banco sempre recusou a ideia de que houvesse um plano formal. Até agora.
Plano para trabalhadores com mais de 55 anos
O primeiro dos planos apresentados aos trabalhadores é dirigido aos que têm mais de 55 anos (ou que cumpram essa idade até ao fim do ano), estejam nos balcões, estejam nos serviços centrais.
Em causa estará a apresentação de uma proposta de reforma e/ou de rescisão por mútuo acordo, que vai depender “da situação concreta de cada colaborador, em termos de idade, antiguidade, banco de origem e situação perante a segurança social”, segundo a nota - há referência ao banco de origem já que o Santander resulta da aquisição e integração de diversas instituições financeiras, desde o antigo Totta & Açores aos mais recentes Banif e Popular.
Esse plano do banco de capitais espanhóis abre segunda-feira, 8 de março, e estende-se por três meses.
Plano para redução de pessoal em balcões fusionados
Já o segundo plano diz respeito ao fecho de balcões. “O banco tem vindo a implementar o redimensionamento parcial da sua rede de balcões, através de fusões e alteração do layout”, explica a comissão executiva, acrescentando que tal “tem provocado uma redundância inevitável de postos de trabalho”.
Aliás, tendo em conta essa redundância, o Santander já tem vindo a contactar trabalhadores, mas nem todos aceitaram as propostas de rescisões. “Subsistem situações de colaboradores naquelas condições com os quais não foi ainda possível chegar a acordo", indica a nota, com o banco a sublinhar que decidiu "apresentar-lhes um derradeiro plano consensual”.
As condições são iguais às oferecidas inicialmente (desde que, em setembro, o banco começou a contactar os trabalhadores visados), sendo que deverão responder entre 8 e 26 de março.
Este segundo plano pode, ainda, ser alargado aos trabalhadores desses mesmos balcões, mesmo os que não foram, até aqui, convidados a negociar a saída (mas que tenham menos de 55 anos, já que os que têm idade superior podem candidatar-se ao primeiro plano).
“Por forma a procurar diminuir o número de postos de trabalho redundantes que persistam a essa data no universo daqueles balcões (aqueles objeto de fusão ou de alteração de layout desde setembro de 2020), os restantes trabalhadores destes balcões, que tenham menos de 55 anos e não foram objeto de qualquer proposta por parte do banco, poderão igualmente manifestar a sua intenção de negociação de acordos de rescisão, de 29 de março até 9 de abril”, indica a nota aos trabalhadores.
Ou seja, este alargamento só acontecerá depois de o Santander Totta saber o que acontece com os funcionários a quem já propusera a saída.
Banco perde 208 trabalhadores em 2020
“O banco procurará que as saídas de colaboradores sejam feitas de comum acordo, e privilegiará sempre que possível as aceitações voluntárias a processos unilaterais e formais, tendo em consideração o contexto individual de cada colaborador e o contexto coletivo dos tempos atuais”, é o que escreve a equipa de Castro Almeida na nota aos trabalhadores, dizendo que tem em conta “os seus parceiros sociais, em particular os sindicatos e as estruturas representativas de trabalhadores”.
Em 2020, o banco reduziu em 208 trabalhadores o quadro de pessoal, que contava no fim do ano com 5.980 funcionários. O corte de pessoal acompanhou a diminuição de 62 agências, para um total de 443 unidades dispersas pelo país.
Esta carta foi enviada no dia em que o banco anunciou os resultados de 2020, em que registou uma quebra de 43,9% dos lucros, que se situaram nos 295 milhões de euros – sem que tenha feito a habitual conferência de imprensa, mesmo que por meios à distância. A nível internacional, o ano foi de prejuízos históricos para o Santander, sobretudo pela forma de contabilização de unidades internacionais.