“O Banco Central Europeu (BCE) está a seguir de perto a evolução das taxas nominais das obrigações [da dívida pública]”, disse Christine Lagarde esta segunda-feira à tarde na sua intervenção na sessão de abertura do Parlamento Europeu organizada pela Assembleia da República portuguesa.
O aviso da presidente do BCE aos mercados teve um efeito imediato. As taxas (yields) dos títulos de dívida pública da zona euro no mercado secundário inverterem a trajetória de alta.
No caso, das obrigações do Tesouro português, no prazo a 10 anos, os juros desceram para 0,2%, depois de terem registado um máximo do dia perto de 0,3%. Esta descida interrompeu uma subida contínua nas últimas seis sessões, que levou a que a taxa a 10 anos tivesse quadruplicado, de 0,073% a 11 de fevereiro para perto de 0,3% esta segunda-feira. No início do mês, estavam em 0,03%, muito perto de zero.
Lagarde disse esta segunda-feira perante os parlamentares europeus e os máximos responsáveis políticos da União que “dentro do amplo conjunto de indicadores que [o BCE] monitoriza para avaliar se as condições de financiamento [na zona euro] continuam favoráveis, são particularmente importantes as taxas sem risco OIS e as taxas dos títulos soberanos, porque são bons indicadores iniciais do que acontece nos estágios a jusante da transmissão da política monetária, uma vez que os bancos utilizam essas taxas como referência na fixação do preço dos seus empréstimos às famílias e empresas”.
Na intervenção perante o Parlamento Europeu, a francesa reafirmou a política monetária expansionista do BCE face à pandemia. Recordou o lançamento, no ano passado, do programa especial conhecido pela sigla PEPP, com um envelope de 1,85 biliões (de que já gastou €807 mil milhões, mais do que o pacote Next Generation da União Europeia ainda por implementar), e de novas linhas de financiamento aos bancos comerciais da zona euro que lhes permitem dar crédito às empresas e famílias "com abundância e barato".
Em títulos de dívida pública dos membros da zona euro, o PEPP já adquiriu, até final de janeiro, €765 mil milhões. Em títulos portugueses já comprou €17,3 mil milhões, sobretudo dívida pública.