Os banqueiros portugueses não estão preocupados com os efeitos do acordo entre a União Europeia e o Reino Unido para o ‘Brexit’. Mesmo ainda antes de conhecerem as futuras regras que regerão os serviços financeiros, que ainda serão discutidas. Numa ronda pelos maiores bancos, fica a ideia de que o impacto será “marginal” ou até “neutro”. Este não tem sido tema para a banca nacional, porque se tem vindo a preparar para a saída do Reino Unido, mas também porque o nível de operações na City de Londres não é relevante para a grande maioria. Quem tinha operações de mercado (como emissão de obrigações ou outras) sob jurisdição britânica — sobretudo o BCP e o Novo Banco — passou para outras jurisdições europeias, nomeadamente França, Alemanha e Luxemburgo, ainda antes de firmado o acordo. E quem não o fez já tem planos para o fazer. Embora as várias fontes ouvidas pelo Expresso minimizem as consequências, advertem, no entanto, para que entre as matérias cuja negociação ainda vai decorrer estão questões importantes, como o reconhecimento ou não das regras comunitárias por parte do Reino Unido e a posição do Banco Central Europeu (BCE) sobre a equivalência da legislação e supervisão britânica.
O economista-chefe do BCP, José Maria Brandão de Brito, acredita que a UE vai conceder estatuto de equivalência ao Reino Unido e avisa de que, se “não houver essa equivalência, será um problema”. Havendo, “muito vai ficar na mesma no negócio grossista e a City pode continuar a desempenhar o seu papel, o que é uma vantagem para o Reino Unido e também para a UE”. E justifica: “O Reino Unido tem um ativo fundamental para a Europa: a infraestrutura de prestação de serviços, sobretudo financeiros, que é das mais favoráveis do mundo para a execução de negócios.” Além de que “a ideia de que a Europa vai conseguir trazer o negócio em torno do euro da City para dentro da UE é perdedora”, acrescentando que, mesmo que isso aconteça, “terá custos também para a Europa”.