O presidente do banco central dos Estados Unidos foi esta quarta-feira muito claro sobre a duração da política monetária expansionista, reforçada este ano face à pandemia da covid-19.
"Vão ficar não importa o tempo que demore. Não haja dúvidas sobre isso", disse Jerome Powell durante a conferência de imprensa esta quarta-feira na sequência da última reunião do ano da Reserva Federal (Fed), o banco central norte-americano.
Pela primeira vez desde que tomou medidas de emergência face à pandemia, a Fed clarificou oficialmente que a política de compra de ativos (vulgo quantitative easing, QE no acrónimo) se vai manter "até que sejam obtidos progressos substanciais" nos dois objetivos da política monetária norte-americana: aproximação da inflação a 2% (meta de estabilidade de preços) e pleno emprego.
Questionado sobre como quantificaria tais "progressos", Powell recusou-se a fazê-lo.
O presidente da Fed reforçou que os estímulos são necessários "até que a expansão económica esteja no bom caminho", antevendo um novo período de "expansão longa" na economia norte-americana passado este choque provocado pela pandemia.
Olhando para as previsões económicas avançadas pelos participantes na reunião do Comité de política monetária da Fed, verifica-se que a meta da inflação de 2% só está prevista para 2023 e que o pleno emprego (taxas de desemprego nos 4%) poderá ser atingido em 2022.
Os analistas já inferiram destas previsões e das palavras de Powell que uma descontinuação do programa de compra de ativos (sobretudo títulos do Tesouro) não ocorrerá antes de 2023 e que uma primeira subida nas taxas diretoras (que estão em mínimos no intervalo entre 0% e 0,25%) não é esperada antes de 2024.
Nova estratégia face à inflação
A cautela da Fed na desativação da política de estímulos está, agora, ancorada na nova estratégia em relação à inflação.
Desde a revisão de estratégia feita este ano, o banco central norte-americano passou a ser mais "flexível" sobre o objetivo dos 2%, admitindo períodos em que ela poderá estar abaixo e outros em que poderá estar acima, sem que isso implique mexidas na política monetária.
No contexto atual, isso significa que a Fed não se vai precipitar a subir taxas e cortar nas compras. É a mensagem que deixa aos mercados.
Ainda que os banqueiros centrais do dólar estejam menos pessimistas sobre a recessão de 2020 (prevendo agora uma quebra de 2,4% em vez de um recuo mais acentuado de 3,7%) e mais otimistas sobre a recuperação em 2021 e clara expansão em 2022 e 2023, Powell não deixou de acentuar, na conferência de imprensa, que os primeiros meses de 2021 podem enfrentar ainda "muitos desafios".
Por isso, vai ser necessário conjugar estreitamente os estímulos monetários com a política orçamental nomeadamente "nos próximos cinco a seis meses" até que a retoma se mostre forte no segundo semestre de 2021. A Fed espera que o Congresso aprove um novo pacote de ajudas (que está em discussão na base de uma proposta bipartidária de 908 mil milhões de dólares).
Essa conjugação de esforços vai ser protagonizada por Powell e Janet Yellen, a sua antecessora. Yellen foi designada pelo presidente eleito Biden como a próxima Secretária do Tesouro da nova Administração no próximo ano. "Felicitei Yellen pela sua indicação, mas não discuti políticas com ela. Só o farei depois de ser confirmada como Secretária do Tesouro", disse Powell.
Ativos da Fed abaixo dos do BCE
Na última reunião de política monetária do ano, a Fed decidiu manter o quadro de taxas diretoras e o volume de compra de ativos em 120 mil milhões de dólares (cerca de €98 mil milhões) por mês .
Em virtude deste programa de aquisição de ativos (dos quais 80 mil milhões de dólares em títulos do Tesouro), o balanço da Fed atingiu este mês os 7,2 biliões de dólares (cerca de €5,9 biliões). Este máximo fica, no entanto, abaixo do valor dos ativos do Banco Central Europeu que já somam €6,95 biliões.