António Costa chamou os ministros para analisar e (desejavelmente) aprovar o plano de reestruturação da TAP, que terá de ser entregue em Bruxelas nos próximos dias, confirmou o Expresso. O tema é de enorme sensibilidade política: a companhia aérea portuguesa, para além de uma redução da frota, despedimentos e cortes salariais - para cumprir as regras da concorrência europeia e se manter sustentável nos padrões europeus -, precisará ainda de mais financiamento público até 2024.
Segundo avançou esta terça-feira o jornal online Eco, o plano que foi elaborado pela empresa, com conhecimento e participação do Governo, prevê novos financiamentos públicos, "até um valor da ordem de 1,8 mil milhões de euros", seja através de injeções de fundos públicos ou de garantias de Estado a novos empréstimos. Este valor - que o Expresso apurou que pode ser um pouco menor, de 1,6 mil milhões - terá de somar-se aos 1.200 milhões de ajudas em 2020. E aponta para um montante claramente superior aos 500 milhões de euros já orçamentados para 2021, no OE que foi aprovado pelo Parlamento.
Os valores irão, depois, baixar de ano para ano, tendo em conta a expetativa de uma progressiva retoma de atividade pós-pandemia - dados que se sustentam nas previsões de que, durante o próximo ano, as populações dos principais países ocidentais conseguirão ser vacinadas.
Na última edição em papel, que saiu na sexta-feira, o Expresso explicou já que o plano de reestruturação que o Ministério das Finanças irá apresentar em Bruxelas prevê que a transportadora mantenha em atividade 88 aviões, mais 11 do que tinha quando Neeleman e Humberto Pedrosa se tornaram acionistas - mas abaixo dos 105 com que começou o ano de 2020. É um número mínimo para garantir à TAP uma dimensão que justifica o hub no aeroporto de Lisboa e que lhe permitirá continuar a fazer os voos transcontinentais para o Brasil e os EUA, na verdade, aqueles em que a companhia tem uma vantagem competitiva.
A administração da TAP já admitiu, também, que para atingir os objetivos de um break-even financeiro no final de 2021, poderiam ter de sair 2 mil trabalhadores da empresa, além dos contratados a prazo - um número que ainda não era final. Fixado está apenas o corte da massa salarial, que será de 25%, o equivalente a cerca de €185 milhões. O número de saídas vai depender do tipo de negociações que serão feitas com os trabalhadores e da dimensão das reformas e das saídas voluntárias, como explicou o Expresso. Uma coisa parece certa: os acordos de empresa em vigor vão ser revistos e alguns suspensos - o que já abriu enorme tensão com os sindicatos que representam os trabalhadores da empresa.
No plano político, a situação não é menos difícil. No domingo passado, o comentador e conselheiro de Estado Marques Mendes anunciou a intenção do Governo de levar o plano a votos na Assembleia da República - uma informação que os partidos à esquerda disseram desconhecer e que as bancadas à direita viram como pressão para o Governo PS obter um apoio político para um plano que será duro para os próximos anos. A aprovação, se não for garantida, representará a insolvência da empresa, avisou Marques Mendes. Para já, o certo é que o Executivo decidiu mostrar o plano aos partidos já esta quarta-feira.