Economia

No dia em que Parlamento chumbou nova ajuda, Novo Banco escolheu quem fiscaliza pedidos ao Fundo de Resolução

Bastonário dos auditores vai sair da presidência da comissão de acompanhamento do Novo Banco.

José Carlos Carvalho

No dia em que o Parlamento chumbou qualquer despesa do Fundo de Resolução com o Novo Banco em 2021, os acionistas do banco estiveram reunidos para eleger os três membros que têm de fiscalizar a forma como o banco pede dinheiro … ao Fundo de Resolução.

Com as decisões tomadas a 26 de novembro, e comunicadas através de nota à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a comissão de acompanhamento do Novo Banco vai sofrer modificações em relação ao mandato em curso, iniciado em 2017.

É esta comissão que tem de olhar para as operações que envolvam créditos e ativos da instituição financeira que estão sob o chamado mecanismo de capital contingente, e que são tidas em conta na hora de o banco solicitar capital ao Fundo de Resolução. São três membros desta comissão.

O até aqui presidente da comissão de acompanhamento, José Rodrigues de Jesus, abandona o cargo. No mesmo dia em que saiu derrotado das eleições para a Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (OROC), também não foi reconduzido nestas funções.

José Bracinha Vieira, diretor reformado do Banco de Portugal que já era vogal desta comissão, passa agora a ser o presidente, por indicação do Fundo de Resolução. Carlos Roballo, que foi eleito há um mês para a comissão de acompanhamento (pondo fim a um interregno de mais de um ano em que o órgão teve menos um elemento), também é indicado para o novo mandato, de 2021 a 2024, sendo indicado por acordo entre o Fundo de Resolução e o Novo Banco. O revisor oficial de contas, Pedro Marques e Pereira, passa a integrar a 1 de janeiro esta equipa.

A equipa faz parte das “linhas de defesa” do Fundo de Resolução no Novo Banco, tendo a comissão sido constituída para permitir a verificação da evolução dos ativos tóxicos e assegurar que não é solicitado capital em excesso ao Fundo de Resolução. Dos 3,89 mil milhões que podiam ser pedidos, o Novo Banco já solicitou 3 mil milhões ao Fundo de Resolução (que pediu 2,1 mil milhões aos cofres públicos). Ainda podem ser pedidos 900 milhões de euros à luz deste mecanismo e, em 2021, o Governo estimava um limite de 476 milhões de euros, só que o Orçamento do Estado acabou por, com uma proposta do Bloco, reduzir esse montante a zero euros.

O Governo admite ir para o Tribunal Constitucional contestar esta norma, por ir contra um contrato assinado pelo Estado. A oposição aguarda pela auditoria do Tribunal de Contas para poder vir a mudar a sua posição em relação a uma injeção do Fundo no Novo Banco no próximo ano.