Economia

Têxteis em fase de "tímida retoma"

Em agosto, as exportações da fileira cresceram 0,2% puxadas pelos produtos covid

Rui Duarte Silva

Na indústria têxtil, a fase é de "tímida retoma". É assim que Mário Jorge Machado, presidente da ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, vê os números de agosto, marcados por um crescimento de 0,2% face ao mesmo mês do ano passado, para os 355,3 milhões de euros.

A puxar pelos negócios, estiveram os "produtos covid", uma vez que nas contas da ATP, os artefactos têxteis confecionados, segmento que inclui as máscaras de proteção, aumentaram as exportações em 10 milhões de euros (+449%) em agosto.

Para os primeiros oito meses do ano, o saldo continua, no entanto, negativo, com uma quebra de 13,5% (477 milhões de euros), nos 3 mil milhões de euros, apesar do impacto positivo do material de proteção, uma vez que os artefactos têxteis somam 109 milhões de euros e, a esta verba, o sector junta mais 17 milhões de euros do segmento do vestuário de proteção individual.

Por mercados, a ATP destaca as descidas em Espanha (-27%), agora com uma quota de 26% nas exportações nacionais, longe dos 33% do passado recente, e em Itália (-13%). A subir, os principais protagonistas são a França (+6,4%) e o Chipre (+419%).

Quanto ao segmento do vestuário, que responde sozinho por mais de 50% das vendas ao exterior, acumulou uma quebra de 19%, ou 400 milhões de euros, até agosto (1,72 mil milhões de euros), com Espanha a cair 32,5%, para os 570,4 milhões de euros, acompanhada pelos principais mercados do vestuário made in Portugal: França (-6,7%), Alemanha (-4%), Reino Unido (-10,4%) e Itália (-6,6%). As exportações de vestuário para os EUA, o maior mercado fora da Europa, registaram uma queda de 15,2%.

Considerando apenas o mês de agosto, as exportações de vestuário caíram 5,2% face ao mesmo mês de 2019, um indicador positivo que César Araújo, presidente da ANIVEC, vê como um reflexo das alterações do ciclo habitual de trabalho imposto pela pandemia: "Esta queda mais baixa em agosto justifica-se, em grande parte, pelo facto de muitas empresas terem antecipado as férias e, por isso, estiveram a trabalhar em agosto, ao contrário do que é habitual", comenta.

"Embora os números tenham vindo a melhorar, a atual situação, com vários países a decretarem já confinamentos em algumas regiões, vai certamente ter um forte impacto nos próximos meses, sobretudo ao nível do vestuário mais formal: as pessoas em casa não vão comprar vestuário que normalmente é usado no trabalho em escritório ou em festas. A incerteza é muito grande e as perspetivas não são positivas", alerta.