Economia

Ameaças dos EUA a Portugal por causa da China: "bullying diplomático", denuncia Seixas da Costa

Antigo embaixador de Portugal na ONU diz que entrevista do embaixador dos EUA ao Expresso a enunciar "algumas nada subtis ameaças" a Portugal é "pouco profissional. E fala da nova cortina de ferro made in USA

Francisco Seixas da Costa
ALBERTO FRIAS

Para o antigo embaixador de Portugal nas Nações Unidas Seixas da Costa, a entrevista do embaixador americano publicada na edição do Expresso deste sábado é um caso de "bullying político". E, no seu blogue "Duas ou três coisas" deixa claro o que pensa sobre George Glass: "numa pouco profissional entrevista ao Expresso, enunciou algumas nada subtis ameaças ao Estado português, no caso do nosso país não alinhar na “guerra santa” contra a China, obrigando a escolher o lado dessa nova “cortina de ferro” que Washington pretende decretar pelo mundo", diz.

"O diplomata não se deu sequer ao cuidado de disfarçar o seu desconhecimento das dimensões técnicas das questões que aborda", critica Francisco Seixas da Costa que na sua carreira diplomática foi embaixador nas Nações Unidas, na OSCE, no Brasil, em França e na UNESCO e também desempenhou funções políticas como Secretário de Estado dos Assuntos Europeus..

Sobre a reação do ministro dos Negócios Estrangeiros, que foi claro ao dizer ao Expresso que "em Portugal as decisão são tomadas pelas autoridades portuguesas", o diplomata refere que foi "a resposta devida".

"O mundo ocidental tem poderes diferenciados a representá-lo, mas não tem tutelas a orientá-lo. A Aliança Atlântica é uma coligação de países livres cuja leitura dos respetivos interesses estratégicos tem de ser lavada em conta para a definição da posição comum, que não cabe a um único país definir e, muito menos, impor. Além disso, em prioridade, Portugal coordena com os seus parceiros da União Europeia a sua relação geopolítica com países terceiros, sejam eles aliados militares de alguns, como é o caso dos Estados Unidos, sejam as relações económicas e políticas de todos, como é o caso da China", sustenta Seixas da Costa.

"Mas, em derradeira instância, a definição da posição portuguesa é feita em Lisboa", acrescenta.

Depois, com humor, conclui: "icamos a aguardar agora a reação de quantos, deste lado do Atlântico, desde há muitas décadas têm “a voz da América” como um oráculo acima de qualquer crítica. Não nos obriguem a recordar o “catering” na cimeira das Lajes".