Economia

Boeing escondeu falhas no polémico modelo 737 Max perante pilotos e reguladores

Um relatório do Congresso norte-americano trás novos dados sobre a investigação feita à construtora aeronáutica na sequência dos dois acidente que envolveram o novo Boeing 737 Max no ano passado

Stephen Brashear/Getty Images

A Boeing ocultou falhas de projeto no seu modelo 737 Max de pilotos e reguladores, enquanto se posicionava para ter o avião certificado como apto para voar, de acordo com um relatório do Congresso norte-americano sobre por que duas das aeronaves caíram com meses de diferença no ano passado, matando 346 pessoas.

Segundo o Financial Times, o relatório do comité de transporte da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América - conhecido esta quarta-feira - concluiu que a fabricante de aeronaves ocultou informação e pressionou os reguladores a ignorarem aspetos de seu novo projeto, na tentativa de alcançar o rival europeu Airbus naquele segmento de aeronaves comerciais.

O relatório, de acordo com o Financial Times, refere: “[Os dois acidentes que envolveram o 737 max] foram a culminação horrível de uma série de suposições técnicas incorretas por parte dos engenheiros da Boeing, uma falta de transparência por parte da administração da Boeing e uma supervisão grosseiramente insuficiente da [Administração Federal de Aviação]”.

E continua, concluindo que “os fatos apresentados neste relatório documentam um padrão preocupante de erros de cálculo técnicos e erros de avaliação preocupantes de gestão feitos pela Boeing. Ele também põe a descoberto vários lapsos de supervisão e lacunas de responsabilidade pela FAA que desempenharam um papel significativo nas falhas do 737 Max”.

A Boeing tem estado sob várias investigações desde o ano passado, quando um jato Max operado pela Ethiopian Airlines caiu apenas cinco meses depois que outro avião da Lion Air da Indonésia se ter despenhado no mar.

Os investigadores descobriram que em ambas as ocasiões, um sensor defeituoso fez com que um sistema anti-stall automático funcionasse erroneamente, forçando o nariz do avião para baixo. Os pilotos da Lion Air e da Ethiopian Airlines tentaram corrigir a trajetória dos seus aviões, mas foram anulados pelo sistema automático cada vez que o fizeram.

Membros do Congresso vêm conduzindo sua própria investigação sobre os acidentes desde abril passado. O relatório desta quarta-feira marca o culminar de 17 meses de investigação, envolvendo cinco audiências públicas, 24 entrevistas e 600.000 páginas de documentos.

O relatório de 238 páginas detalha como a Boeing tentou minimizar os testes regulamentares e o treino de pilotos necessários para operar o novo Max, que estava a ser lançado à pressa na tentativa de competir com o Airbus A320neo.