Economia

Cofina avalia dona da TVI em €130 milhões. Há um ano valia praticamente o dobro

Cofina paga 35 milhões pela Media Capital, mas o valor da empresa ascende a 130 milhões. É uma descida face aos 255 milhões em setembro de 2019

FOTO TIAGO MIRANDA

A dona da TVI perdeu quase metade do valor em um ano. A Cofina quer pagar 35 milhões de euros pela Media Capital, numa operação que, juntamente com a sua dívida, lhe confere uma avaliação de 130 milhões de euros. Este é um número 49% abaixo do preço que a proprietária do Correio da Manhã avançou quando, há praticamente um ano, fez a primeira proposta de compra.

Na oferta pública de aquisição (OPA) que a Cofina lançou sobre 100% da Media Capital, anunciada esta quarta-feira, o preço oferecido é de 41,5 cêntimos por ação. Esse preço corresponde a um valor total máximo de 35 milhões de euros, segundo o anúncio à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Ora, este preço, segundo diz a Cofina em comunicado às redações, “considera um enterprise value de cerca de 130 milhões de euros”. Este valor inclui, além do preço da compra, a dívida da empresa.

Ora, a Cofina defende que este preço – que oferece à Prisa, dona de mais de 64% da Media Capital, a Mário Ferreira, detentor de 30%, e ainda a outros minoritários, com 5% – está em linha com o que o grupo espanhol considera adequado.

Isto porque este enterprise value (valor intrínseco da empresa) é aquele que decorre do processo de entrada de Mário Ferreira na dona da TVI, em maio passado. Essa transação foi feita por 10,5 milhões de euros, que deram uma posição de 30% da Media Capital ao empresário.

Assim, para justificar o preço que agora propõe, a Cofina aponta para o que a Prisa disse aquando desse negócio: “Esta avaliação está acima das últimas estimativas dos analistas, que incluem considerações sobre o impacto potencial da covid-19 nos ativos de media”.

Preço 49% abaixo face ao de há um ano

Este novo preço que a Cofina avança para a compra da Media Capital decorre da pandemia e da nova avaliação feita sobre a empresa de Queluz de Baixo, mas é muito distinto do preço de setembro passado.

Nessa altura, quando ia comprar a detentora da TVI e da produtora Plural ao grupo espanhol Prisa, a Cofina avaliava a Media Capital em 255 milhões de euros (pagando 180 milhões de euros à Prisa e 10 milhões aos pequenos acionistas, como o Abanca). Seria 2,132 euros por cada ação da Media Capital na posse da Prisa e 2,3336 euros nas mãos dos restantes.

Em dezembro, a dois dias do Natal, a Cofina acordou com a Prisa uma descida do preço, estando aí em causa um enterprise value de 205 milhões de euros (pagando 123 milhões de euros à Prisa e 10 milhões aos pequenos acionistas, como o Abanca). Seria 1,5406 euros por cada ação da Media Capital na posse da Prisa e 2,3336 euros nas mãos dos restantes.

Anulado o contrato que unia Cofina e Prisa (sobre os 95% do capital), que justificou com “a inesperada e muito significativa degradação da situação financeira e perspetivas da Vertix e da Media Capital, especialmente agravadas pelo presente contexto de emergência causado pela pandemia covid-19”, a Cofina continuava a poder ter de lançar uma OPA sobre os minoritários.

Com a CMVM a obrigar a essa OPA sobre 5% do capital da Media Capital, a Cofina decidiu alargar o seu âmbito e, como anunciado esta quarta-feira, anunciou antes uma OPA sobre 100% do capital. Há uma revisão em baixa do preço, agora em 41,5 cêntimos, que afeta também os minoritários.

O preço é anunciado depois de a Media Capital ter divulgado prejuízos de 14 milhões de euros no primeiro semestre deste ano.

Auditor dita preço

De qualquer forma, tendo em conta a reduzida liquidez das ações da Media Capital, será um auditor independente a determinar a validade daquele preço oferecido pela Cofina. Se for superior, a dona do Correio da Manhã, Record, Jornal de Negócios e Sábado pode deixar cair a OPA.

Entretanto, a CMVM avalia se Mário Ferreira pode ter de lançar uma outra OPA, desta vez obrigatória, sobre a Media Capital, já que avalia se o acordo parassocial que o empresário fechou em maio com a Prisa lhe dá um controlo sobre a empresa sem que tenha sido dada possibilidade aos minoritários para saírem do capital. Será o mesmo auditor a definir este preço.