Economia

Mesmo suspenso de funções, António Mexia gastou 26 mil euros em novas ações da EDP

Grupo espanhol que é o segundo maior acionista da EDP investe 74 milhões de euros para continuar com 7% da EDP. Equipa de administradores já aplicou, também, mais de 100 mil euros

António Mexia chegou à EDP em 2006 e ao fim de 14 anos como CEO vê-se suspenso e proibido de entrar nos edifícios da empresa por decisão do juiz Carlos Alexandre. Num processo ainda em inquérito, sem acusação, está indiciado pelos procuradores do DCIAP por quatro crimes de corrupção e um de participação em negócio
LUÍS BARRA

Mesmo estando fora da EDP, suspenso de funções por determinação da justiça enquanto seguem as investigações às alegadas rendas excessivas pagas à elétrica, António Mexia decidiu investir 26 mil euros no aumento de capital de mil milhões de euros da empresa, que está a ser feito para financiar parcialmente a compra da espanhola Viesgo.

“No contexto do aumento de capital pelo qual é conferido aos acionistas direitos de subscrição, António Luís Guerra Nunes Mexia, presidente do conselho de administração executivo (atualmente com funções suspensas) informou a EDP que optou pelo exercício dos respetivos direitos”, assinala a elétrica num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Mexia já tinha 90 mil ações da EDP e o aumento de capital é reservado a acionistas, que recebem direitos para subscrever os títulos que são emitidos (309 milhões de novas ações) – e se os acionistas não os quiserem, podem vendê-los em mercado a outros investidores.

Mexia, pese embora as investigações judiciais que o impedem de entrar nas infraestruturas da elétrica, optou por subscrever as ações a que tinha direito (juntamente com as ações atribuídas à sua mãe), investindo um total de 26,1 mil euros no passado dia 31 de julho (3,30 euros por cada nova ação).

O Expresso questionou, ontem, terça-feira, a EDP sobre se Mexia tinha acompanhado esta operação, e a resposta veio a apontar para este comunicado da CMVM.

O presidente executivo suspenso não é o primeiro administrador da elétrica a anunciar investimento nesta operação. Miguel Stilwell, que está interinamente na liderança e que tinha 140 mil ações já nas suas mãos, recebeu direitos de subscrição e usou-os, colocando 39 mil euros na operação. Outros nomes da administração também o fizeram, gastando cerca de 46 mil euros.

Ao todo, cinco membros da equipa de administração investiram em torno de de 110 mil euros para manter as respetivas posições numa operação que vai alargar em 8,45% o capital da elétrica.

João Manso Neto, outro administrador da EDP e presidente executivo da Renováveis igualmente suspenso de funções, também tem ações da empresa, mas não houve nenhum comunicado sobre o investimento – na verdade, mesmo que tenha subscrito as novas ações, não precisa de o comunicar, já que os administradores só são obrigados a fazê-lo quando o investimento supera os 5 mil euros.

Espanhóis agarram 7% com 74 milhões

Entretanto, já se começa a saber qual a posição dos acionistas nesta operação de reforço de capital. Embora aprovada pelos grandes acionistas da elétrica, ainda não se sabia quais é que efetivamente iriam investir dinheiro na operação. Mas já há uma certeza.

A espanhola Oppidum Capital, de Fernando Herrero, investiu os 74 milhões de euros que lhe permitem manter os 7% de capital que tem na EDP, de acordo com outro comunicado ao regulador do mercado de capitais. É o segundo maior acionista da elétrica, sendo que a China Three Gorges tem 21,5%. Há depois seis grupos de investidores (fundos de investimento, sobretudo), com posições a variar entre 2% e 3%, incluindo o fundo de pensões do BCP. Sobre esses, ainda não há dados.

Todos estes investidores podem abortar as ordens de subscrição que fizeram até ao momento. A partir das 15h00 desta quarta-feira, as ordens tornam-se irrevogáveis e deixa de ser possível anulá-las: só será possível aumentar o número de ações a subscrever.

Os resultados do aumento de capital, de mil milhões de euros, serão divulgados esta sexta-feira, 7 de agosto.