A taxa de desemprego em Portugal recuou para 5,6% no segundo trimestre, um valor que não era visto há muitos anos no país, mas os dados publicados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que esta evolução da taxa de desemprego não traduz uma melhoria da situação no mercado de trabalho que, pelo contrário, se degradou em força.
Basta notar que o volume de horas efetivamente trabalhadas em Portugal encolheu 26,1% em termos homólogos, a maior quebra desde 2011.
O INE destaca que esta queda "está sobretudo associada ao aumento da população empregada ausente do trabalho", que ultrapassou um milhão de pessoas (em concreto, 1,0782 milhões de pessoas), o que representa 22,8% da população empregada.
Ou seja, entre abril e junho quase um em cada quatro trabalhadores portugueses classificados como empregados esteve ausente do trabalho.
Esta percentagem é mais do dobro da observada no trimestre anterior e quase o quádruplo da existente no segundo trimestre de 2019.
E o aumento "ficou a dever-se quase exclusivamente à redução ou falta de trabalho por motivos técnicos ou económicos da empresa", que incluem a suspensão temporária de contrato e o regime de layoff, indica o INE. Essa foi a razão apontada por 680,1 mil daquelas pessoas que estiveram ausentes do trabalho. São cerca de dez vezes o número do trimestre anterior.
Apesar deste contexto, marcado pelo regime simplificado de layoff que, explica o INE, "permite a manutenção na população empregada de pessoas cujas empresas fecharam, total ou parcialmente, de forma temporária", a população empregada sofreu, ainda assim, uma quebra "significativa".
A redução no emprego foi de 2,8% face aos três meses anteriores (menos 134,7 mil pessoas), "contrariamente ao que ocorreu nos restantes segundos trimestres desde 2011".
É que esta é uma altura do ano em que, tradicionalmente, a sazonalidade joga a favor do mercado de trabalho, com as contratações para a época alta no turismo e na agricultura a puxarem para cima o emprego. Este ano, contudo, com a pandemia a trocar as voltas à economia, em particular ao turismo, isso não aconteceu.
Já em termos homólogos, a queda foi de 3,8% (menos 185,5 mil pessoas), "contrariando a série de variações homólogas positivas observadas neste trimestre desde 2014", indica o INE.
Inatividade dispara
Os economistas já tinham alertado para a limitação da taxa de desemprego neste período como referência para a evolução do mercado de trabalho. Tudo por causa do impacto do confinamento, que levou a que muitas pessoas sem trabalho não procurassem ativamente emprego, ou não estivessem disponíveis no imediato, levando a fossem classificadas pelo INE como inativas e não como desempregadas.
O INE vinca que no segundo trimestre, "em consequência do impacto da pandemia COVID-19, a evolução do mercado de trabalho exibiu características extraordinárias".
E destaca o "aumento significativo da taxa de inatividade, estimada em 43,7%, em relação ao trimestre anterior (mais 2,3 pontos percentuais) e relativamente ao mesmo período de 2019 (mais 2,9 p.p.).
"Este acréscimo foi em larga medida expressão do aumento dos inativos que, embora estejam disponíveis para trabalhar, não efetuaram procura ativa de emprego no período de referência", destaca o INE.
A autoridade estatística nacional explica ainda que o crescimento em 206,1 mil pessoas no segundo trimestre em relação aos três meses anteriores, resultou de fluxos líquidos provenientes das situações de emprego (55%) e desemprego (45%). PI seja, da passagem de trabalhadores que antes estavam empregados para a inatividade, bem como de desempregados para a inatividade.
E é isso que "explica fundamentalmente a redução do desemprego e da respetiva taxa, ocorrida no segundo trimestre" em relação aos primeiros três meses do ano.
Agora, com o desconfinamento do país, este movimento "poderá ser invertido pela maior facilidade de mobilidade e interação social, e consequente procura de emprego, como indicia o aumento da taxa de desemprego de junho já publicada" .