O Novo Banco insiste que as vendas de carteiras de imóveis que tem realizado, sempre com perdas, cumpriram as “práticas bancárias adequadas”. Estas alienações estão sob análise na Procuradoria-Geral da República, e têm motivado dúvidas aos partidos. Se há dúvidas, diz o CEO, António Ramalho, podem até convocá-lo para ir ao Parlamento em agosto.
“O conselho de administração executivo do Novo Banco reafirma que as operações realizadas sobre imóveis sempre o foram de acordo com os princípios de boa conduta e práticas bancárias adequadas e seguramente na estrita obediência da lei e dos contratos assinados em 2017, incluindo a gestão partilhada dos ativos protegidos que eventualmente podem gerar perdas a suportar pelo seu acionista Fundo de Resolução”, aponta o comunicado enviado às redações esta quarta-feira, 29 de julho.
António Ramalho diz estar disponível “para prestar todos os esclarecimentos no reinício dos trabalhos parlamentares”, mas também “se disponibilizará em qualquer momento, até em agosto, se a comissão de Orçamento e Finanças assim o pretender”. Os partidos já assumiram que querem explicações, e o PS quer audições em setembro.
Até lá, ainda esta semana, será divulgada a auditoria a cargo da Deloitte aos atos de gestão feitos no banco.
O banco tem estado no centro de uma nova polémica depois de, no espaço de duas semanas, duas investigações do jornal Público terem levantado dúvidas sobre operações de vendas de imóveis. As transações já tinham sido comunicadas – nomeadamente o facto de terem impacto negativo nos resultados do banco –, mas estas notícias vieram trazer mais dados.
No caso do chamado projeto Sertorius, o Público noticiou que o comprador, o fundo Cerberus, é o dono de um banco austríaco onde trabalhou o agora presidente do conselho geral e de supervisão, Byron Haynes, algo que levou a uma queixa no supervisor europeu ESMA.
No segundo caso, o relativo ao projeto Viriato, o que está em causa é que a compra é feita através de uma cascata de empresas instrumentais localizadas nas Ilhas Caimão e no Luxemburgo, tendo o comprador recebido um financiamento do banco para essa compra, o que não se sabia até aqui.
Além disso, tal como no caso do fundo Cerberus, aqui o comprador é a Anchorage, também é difícil saber que investidores são os seus efetivos beneficiários destes fundos de "private equity", que costumam investir em ativos sob stress para depois reestruturá-los e vendê-los com mais-valias.
Ao todo, nos últimos dois anos, o Novo Banco realizou cinco grandes operações de venda de carteiras de crédito malparado e de imóveis que causaram um prejuízo direto no banco de 611 milhões de euros.