O Novo Banco está a preparar há meses mais um projeto para a venda de grandes créditos problemáticos. Chama-se “Nata III”. Este processo, que o banco pretende realizar mesmo apesar da pandemia, recebe aquela numeração romana porque nos últimos anos já se realizaram duas operações idênticas, denominadas “Nata I” e “Nata II”. Houve também transações de comercialização de pacotes de imóveis que receberam os nomes Viriato, Sertorius e Albatroz.
Sendo grandes pacotes, e tendo sido colocados à venda por um banco a precisar de se desfazer de ativos tóxicos, estes cinco projetos causaram perdas de 611 milhões de euros à instituição financeira.
Este valor representa a diferença entre o valor a que os ativos estavam registados no balanço do banco (já depois de imparidades, que correspondem a perdas antecipadas anteriormente) e o seu preço de venda.
Portanto, na prática, estes ativos até foram mais tóxicos do que aqueles 611 milhões de euros de impacto direto nos resultados de 2018 e 2019, já que a anterior constituição de imparidades - que já existia sobre grande parte dos créditos e imóveis incluídos nestes pacotes - também pesou nas contas de outros anos.
Do Parlamento à PGR
O projeto Sertorius, que causou perdas diretas de 229 milhões ao banco em 2019, é aquele que tem causado mais polémica política desde que o “Público” noticiou que o fundo Cerberus, que foi o comprador, é dono do austríaco Banco Bawag, de que Byron Haynes, atual chairman do Novo Banco, foi presidente.
O conflito de interesses existe, na ótica do líder da oposição, Rui Rio, que pediu ao Ministério Público para investigar. Na sequência dessa consideração deixada pelo presidente do PSD no Parlamento, o primeiro-ministro, António Costa, enviou um pedido à Procuradoria-Geral da República para que não haja uma nova operação do género até que a auditoria feita pela Deloitte – que se debruça, entre outras matérias, sobre as alienações dos ativos – seja entregue e analisada. A auditoria tem de chegar ao banco até ao final desta semana.
A PGR já está a analisar este pedido do primeiro-ministro, que embate nos planos de António Ramalho de realizar uma nova venda expressiva de crédito. O Novo Banco antecipou-se e, antes de a PGR avaliar, entregou já documentação com dados sobre as vendas.
Em baixo seguem algumas das informações públicas sobre as operações através das quais o Novo Banco se desfez de carteiras relevantes de créditos e imóveis, que passaram para grandes fundos, desconhecidos da generalidade dos portugueses e que não estão sob qualquer supervisão em Portugal.