Economia

Covid-19. Zara constipa-se, exportações da fileira têxtil e do vestuário também

Máscaras e vestuário hospitalar dão um impulso positivo à fileira, mas "queda nas exportações é significativa e impossível de recuperar no resto do ano"

António Pedro Ferreira

As exportações da indústria portuguesa de vestuário caíram 44% em maio, para 152 milhões de euros. É uma consequência direta da pandemia e um sintoma claro de que a entrada no vermelho da espanhola Inditex, dona da Zara, já infetou as empresas lusas.

"A quebra é geral e é, antes de mais, ditada pelo confinamento e pela retração nas encomendas e no consumo", diz ao Expresso César Araújo, presidente da ANIVEC - Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção, admitindo que a Zara, o maior cliente das empresas nacionais, terá "um peso enorme" na tendência descendente do sector até porque o mercado espanhol derrapou 66% ou 70 milhões de euros em maio, para ver a sua quota cair até aos 24%.

Tradicionalmente, a fatia de Espanha nas exportações lusas de vestuário passa os 30%, muito por força da Inditex, dona das cadeias de lojas Zara, Massimo Dutti, Bershka e Pull & Bear, entre outras, e líder nas compras à indústria nacional. Mas no primeiro trimestre do corrente ano fiscal (entre fevereiro e abril) o grupo espanhol reportou uma queda das vendas dos 5,9 mil milhões de euros para os 3,3 mil milhões, e um prejuízo inédito de 409 milhões contra lucros de 734 milhões de euros em igual período de 2019, tendo anunciado recentemente a intenção de fechar 1.200 lojas nos próximos dois anos.

No entanto, Espanha não caiu sozinha. Também houve quebras superiores a 40% nos EUA (47% ou 4 milhões de euros) e Países Baixos (43,7% ou 7 milhões de euros), com a descida do Reino Unido a ficar nos 39% (-10 milhões).

Para os primeiros cinco meses do ano, a ANIVEC refere uma decida de 22,7% nas exportações (-303.9 milhões) , para um valor acumulado de 1,034 mil milhões de euros, 82,4% dos quais relativos ao mercado comunitário.

Quanto à compra de vestuário made in Portugal entre janeiro e maio, a ANIVEC contabiliza uma quebra de 37,1%, com a quota de mercado do vizinho ibérico neste período a ficar ainda próxima dos níveis habituais, nos 32,5%.

"Esta queda nas exportações é significativa e impossível de recuperar no resto do ano", admite César Araújo, presidente da ANIVEC, sublinhando que "este é o terceiro mês de redução abrupta nas encomendas, resultado do confinamento que ainda se vive um pouco por todo e mundo e que faz com a que a retoma seja muito lenta", acrescenta.

"As empresas do vestuário e confeção continuam a ser fortemente prejudicadas pela quebra no consumo e, face a esta conjuntura, é impossível os empresários manterem o mesmo número de trabalhadores quando não há encomendas", defende antes de deixar um apelo: "é uma necessidade absoluta que o governo mantenha mecanismos de apoio, como o modelo de lay-off simplificado, para evitar despedimentos e manter a sustentabilidade desta indústria que representa uma parte significativa da economia do país".

Máscaras contrariam quebra da fileira

Para o conjunto da fileira têxtil e do vestuário, maio fechou com uma quebra homóloga de 32% na frente externa, o que significa que a derrapagem nos primeiros cinco meses do ano foi de 19%, para os 1,8 mil milhões de euros. A quebra abrange a maioria dos produtos, mas tem algumas exceções, como é o caso das exportações de produtos relacionados com a proteção da covid-19, em especial as máscaras, incluídas na categoria dos artigos têxteis confecionados (+48 milhões de euros no período em análise), e o vestuário de proteção, designadamente batas hospitalares (+ 5 milhões).

E entre os destinos que mais cresceram nos primeiros 5 meses do ano, a ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, identifica a o Chipre, Nicarágua, Grécia, Trinidad e Tobago e Cabo Verde.