O presidente da associação do Montepio, Virgílio Lima - que assumiu o cargo depois de Tomás Correia ter desistido da liderança da associação, em 2019, para que o seu registo não fosse recusado pelo supervisor dos seguros - , considera que os prejuízos que a associação registou no mesmo ano, de quase 409 milhões de euros, foram determinados por efeitos não recorrentes, como a avaliação do banco, dos seguros e o entendimento relativo à contabilização de impostos diferidos que a auditora da associação os obrigou a fazer.
Virgílio Lima convocou uma reunião com jornalistas, na qual o Expresso não esteve presente. Na nota que a associação entretanto enviou, pode ler-se que o valor do Banco Montepio foi "a principal componente dos resultados negativos" e que, embora a associação discorde da avaliação feita pela PwC, o valor proposto "foi assumido por prudência pelo conselho de administração". A associação adverte que poderia ter "mantido o valor" que julga justo, mas os auditores fariam uma reserva na certificação legal de contas e "ficaria a dúvida" sobre o valor do Banco Montepio.
O auditor obrigou a associação a fazer uma imparidade de 377,5 milhões de euros no principal ativo da associação, o banco, que Virgílio Lima acusa de ser "excessiva" e de "não traduzir o valor real do banco", acrescentando que o "excesso de zelo pode conduzir a injustiças indesejáveis".
Para que não ficassem dúvidas no ar, a administração a que preside aceitou "assumir o valor de referência (do Banco Montepio) que os auditores defendem - 1500 milhões equivalentes ao valor dos capitais próprios". Para a associação o valor do banco "é definido entre o valor de mercado (ou justo valor) e o valor de uso, sendo aceite o maior dos dois".
É neste pressuposto que a mutualista considera que o valor do Banco Montepio "seria superior a 1.878 milhões de euros, que era o valor contabilístico". Fá-lo por considerar que o plano de negócios que a comissão executiva do banco traçou "é capaz de gerar resultados no futuro, o que lhe acrescenta valor", embora os auditores contestem o plano de negócios do banco.
Na nota que chegou ao Expresso, no âmbito do encontro com os jornalistas, a associação refere que "a PwC à medida que prosseguiu os seus trabalhos trabalhos de apreciação, aumentou a taxa de desconto" - de forma "inconsistente", com a descida das taxas de juro, o que "gerou o aumento das provisões matemáticas" - e o "valor do banco, que ficou igual ao valor da situação liquida".
Para os prejuízos de quase 409 milhões de euros que comparam com lucros de 1,6 milhões em 2018, pesou a desvalorização do Banco Montepio (377,5 milhões de euros) e a desvalorização da Montepio Seguros (14,8 milhões de euros), por parte do auditor. Mas também o reforço de provisões matemáticas das modalidades atuariais, no valor de 34,7 milhões de euros e o reforço de dotação para o Fundo de Pensões dos trabalhadores que vieram do banco para a associação, relativo a pressupostos atuariais entre 2017 e 2019, no montante de 4,5 milhões de euros. Itens que a associação considera não recorrentes.
É, neste enquadramento, que a associação diz que sem estes efeitos não recorrentes, os resultados de 2019 seriam "positivos em 13,5 milhões de euros". E fá-lo porque considera que estes impactos "podem ser revertidos nos próximos anos, à medida que o banco e a seguradora Lusitania (ramos reais) melhorarem o seu desempenho, gerando valor em linha com os objetivos". Até lá, contudo, a auditora PwC considera que estes efeitos mesmo que não recorrentes existem e devem ser refletidos no balanço da associação.