Economia

Novo Banco. Injeção de capital em 2021 é automática em “cenário de extrema adversidade”

Contrato de venda do Novo Banco prevê que os efeitos negativos de “um cenário de extrema adversidade” possam ser compensados por uma injecção automática do Estado

tiago miranda

Expresso

Até Marcelo Rebelo de Sousa ficou “estupefacto”: o contrato de venda do Novo Banco ao fundo americano Lone Star prevê que os efeitos negativos de “um cenário de extrema adversidade”, como uma pandemia da covid-19, nas contas da instituição possam ser compensados por uma injecção automática do Estado para repor a sua solidez, revela o “Público” esta terça-feira.

O acordo de venda do Novo Banco, fechado em outubro de 2017, entre o Ministério das Finanças, o Banco de Portugal e o fundo norte-americano Lone Star, prevê duas condições para que o Estado injete capital na instituição.

Primeira: sempre que os rácios de capital desçam abaixo dos 12% - o já aconteceu (baixaram para 12,3% no primeiro trimestre). Segunda: sempre que se verifiquem perdas nos ativos problemáticos abrangidos pelo mecanismo de capital contingente. Se estas duas condições se verificarem em simultâneo, então o Estado é chamado a pagar pelo menor destes valores.

De acordo com o jornal, a instituição liderada por António Ramalho vai rever as necessidades de capital para deixar as contas de 2020 equilibradas. A injecção será feita em 2021 e ainda há quase mil milhões de euros para utilizar.

Por uma vez, a justificação não é a “limpeza” do legado do BES. “Nós tínhamos um capital que esperávamos ir buscar antes da covid e [agora] há um capital que estimamos que possamos ter que necessitar no final do ano, depois da covid”, disse António Ramalho, líder do Novo Banco, em entrevista à “Antena 1” e ao “Jornal de Negócios”, há poucos dias.

Segundo o “Público”, o automatismo previsto no acordo negociado pelo ex-secretário de Estado de Pedro Passos Coelho, Sérgio Monteiro, aparentemente liberta o accionista norte-americano de assumir quaisquer riscos.

“Nos termos deste mecanismo de capital contingente, o Fundo de Resolução compromete-se a realizar injecções de capital no Novo Banco no caso de se materializarem certas condições cumulativas, relacionadas com: o desempenho de um conjunto delimitado de activos do Novo Banco; e com a evolução dos níveis de capitalização do banco”, disse Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, em 2018, no Parlamento.