André Sardet, músico:
"O Instagram é uma excelente ferramenta de promoção mas não paga contas"
Como é que a pandemia o obrigou a mudar?
O principal desafio é ter que controlar a minha vontade quase incontrolável de querer trabalhar, estar no terreno e não ter infelizmente essa hipótese. Nos últimos 20 anos habituei-me a um ritmo frenético de trabalho e parei de um dia para o outro. Tenho três atividades (música, produção de eventos e hotelaria) completamente paradas, sem possibilidade de regresso em pleno nos próximos tempos.... Ainda assim, tento pensar e criar estratégias para a retoma. Muitas vezes a falta de tempo, faz-nos perder objetividade e tirar o foco naquilo que é realmente importante para as empresas: estratégia.
Os espectáculos digitais em plataformas como o Instagram, por exemplo, podem ser a marca do futuro? Como vê esta possibilidade?
Acho que não! Não há uma interação verdadeira com o público. Há coisas que não mudam, nem em tempos de pandemia... Há séculos que os espetáculos são da mesma forma. Artistas com público por perto! Não se consegue inventar duas vezes a roda. Por outro lado, os artistas deverão controlar a tentação de não dar aquilo que têm para vender. O Instagram é uma excelente ferramenta de promoção mas não paga contas. Eu próprio fiz um direto no Instagram mas não me quero “desbaratar”. Faço-o pelo respeito que tenho pelo meu público e pelos anos que tenho de carreira.
O que está a fazer para lidar com a crise?
Estou a repensar procedimentos, a analisar as contas. Perceber o que é realmente importante. Distinguir o essencial do assessório.
Luís de Matos, ilusionista:
"É o momento em que temos que decidir se aceitamos afundar ou se tentamos nadar"
Os espetáculos drive-in chegaram para ficar?
A avaliar pela adesão e pelos elogios que temos recebido, enquanto tivermos bom tempo teremos espectáculos no “Estúdio33 Drive In”. Acima de tudo este projeto pretende ser um statement. Não basta falar, é preciso fazer.
Foi difícil colocar o trabalho de novo a andar?
Passada a fase de apatia, desafiei a minha equipa a imaginar que o estado de emergência seria de dois anos, e não de dois ou três sucessivos períodos de 15 dias. A partir do momento em que pensamos num período de dois anos, a conversa fica mais séria. Deixamos de achar que daqui a uns meses estaria tudo bem (que não vai estar). Para grandes males, grandes remédios. Pensar, por instantes, que o estado de emergência se prolongaria por dois anos fez-nos imediatamente procurar soluções mais sustentáveis e que não passassem por remendos temporários e de ocasião. Foi aí que surgiram ideias como o “Luis de Matos ZOOM” (espectáculos e workshops via zoom com envio prévio de todos os materiais necessários).
Como é que lidou com os desafios colocados por este período?
O primeiro desafio é o de ganhar consciência e aceitar que a pandemia não vai passar até haver vacina. Jamais será por decreto que deixaremos de estar expostos ao vírus. Jamais estaremos a salvo se não aprendermos a proteger-nos no contacto diário. Depois disso, vem o desafio da sobrevivência. Algo que se coloca em todas as actividades profissionais e económicas. É o momento em que temos que decidir se aceitamos afundar ou se tentamos nadar.