Economia

Novo Banco agrava prejuízos para 179 milhões de euros e provisiona quase 70 milhões por causa da pandemia

Os prejuízos do Novo Banco aumentaram 92% no primeiro trimestre face a igual período de 2019. Reforço de imparidades para acautelar impactos da pandemia pesou

tiago miranda

Os prejuízos do Novo Banco nos primeiros três meses do ano ascenderam a 179 milhões de euros. Um valor que compara com prejuízos de 93 milhões de euros em igual período de 2019.

Para isso contou o reforço de imparidades para riscos de crédito para acautelar os efeitos do coronavírus, um valor que rondou os 69,7 milhões de euros. Cautelas que têm sido feitas pelos restantes bancos do sistema por causa do crescimento do malparado e seguindo as recomendações do Banco Central Europeu.

Mas não só. O produto bancário caiu 46%, muito embora o produto bancário da atividade comercial tenha registado um crescimento de 5,5% em termos homólogos influenciado pelo aumento da margem financeira (diferença entre o que paga pelos depósitos e o que se cobra pelos créditos) de 10%, refere o banco em comunicado.

Os resultados em operações financeiras foram negativos em 93,6 milhões de euros, o que segundo o banco é "reflexo das perdas decorrentes da atividade recorrente (menos 76,6 milhões de euros) impactadas pelos efeitos da pandemia covid-19 e da resultante volatilidade nos mercados financeiros e de capitais no primeiro trimestre de 2020".

Com sinal positivo o banco aponta a redução de 3,7% dos custos operativos que decorrem sobretudo da redução do número de balcões e de colaboradores, assim como da redução dos "custos da atividade" do banco legado (onde estão os ativos problemáticos por conta do Fundo de Resolução).

O crédito a clientes decresceu 0,5% no período em análise, quer o crédito a empresas (menos 0,4%) quer o crédito a particulares (menos 0,6%), tendo o crédito à habitação registado uma variação mínima de menos 0,1% e o restante crédito a particulares uma diminuição de 3,8%.

Os recursos totais registaram uma ligeira subida de 0,2% com destaque positivo para o aumento dos depósitos que cresceu 2,4%.

O rácio de transformação (relação entre depósitos e crédito) está nos 89%, continuando os depósitos a ser "a principal fonte de financiamento do balanço representando 68,1% do total dos passivos e 62,5% do total dos ativos".

O presidente do Novo Banco, António Ramalho, refere que " o processo de reestruturação que temos estado a realizar de forma decidida e com sucesso, ainda que não esteja terminado, permitiu que o Novo Banco nesta crise tenha provado ser um instrumento decisivo e único no apoio às empresas e famílias e à economia portuguesa".

Nível de provisionamento vai manter-se elevado nos próximos trimestres

No que toca a provisões, o montante ascende 151,5 milhões de euros, dos quais 141,7 milhões de euros são relativos a créditos. Deste montante o banco sublinha que 69,7 milhões de euros decorrem da antecipação de provisões por causa da pandemia. 7,7 milhões de euros foram canalizados para outros ativos e contingências e os restantes 2,1 milhões para títulos. Neste domínio verificou-se uma queda marginal de 0,2%.

O banco liderado por António Ramalho sublinha que "o abrandamento da atividade bancária em linha com o evoluir da crise económica", conduz "inevitavelmente ao agravamento do custo do risco", o que levou ao reforço de imparidades por causa do coronavírus.

E, nas contas trimestrais esta sexta-feira divulgadas, o banco avisa que "é esperado que o nível de provisionamento se mantenha elevado nos próximos trimestres".

O rácio de capital provisório CET1 foi de 12,3% em março e o rácio provisório de solvabilidade total de 13,8%, o que representa uma redução face aos valores apurados no final de 2019, o que segundo o banco se deveu "principalmente à diminuição dos capitais próprios impactados no período pelos efeitos decorrentes da pandemia".

Sem o legado do BES, desta vez houve prejuízo

O banco recorrente, ou seja, a parte do Novo Banco que não tem os ativos problemáticos herdados do BES e que está sob a alçada do Fundo de Resolução, nos primeiros três meses deste ano registou um prejuízo antes de impostos de 47 milhões, quando em março de 2019 tinha alcançado um valor positivo de 85,3 milhões de euros.

Em contrapartida, os resultados antes de impostos que contam com o legado do antigo BES, ou seja os ativos mais problemáticos, nos primeiros três meses do ano foram negativos em 34,2 milhões de euros, quando em igual período de 2019, os prejuízos antes de impostos ascenderam a 142 milhões de euros.