Economia

Novo Banco acenou com bónus inicial de €320 mil para contratar administrador financeiro

CEO e administradores executivos do Novo Banco foram aumentados em 2019, ano de prejuízos. Ao todo, administração executiva auferiu 2,3 milhões de euros, sendo que há ainda 2 milhões que podem ser pagos, a título de bónus, após 2021

tiago miranda

O Novo Banco contratou um novo administrador financeiro no ano passado e, para o conseguir atrair, pagou 320 mil euros como bónus. Este valor acresce aos cerca de 2,3 milhões de euros atribuídos ao conselho de administração do banco em 2019.

O Novo Banco foi buscar, em março do ano passado, o irlandês Mark Bourke ao Allied Irish Banks. Para o conquistar, foi fechado um acordo: “resultante do compromisso de entrada em funções de Mark Bourke como novo administrador executivo, foram pagos a este administrador em 2019, antes de iniciar funções, 320 mil euros a título de sign-on bónus”, segundo aponta o relatório e contas de 2019, publicado esta semana.

Um bónus deste género é um pagamento feito como incentivo para se juntar ao banco. Neste caso, uma atração para que Bourke se juntasse a um banco carregado de prejuízos, com uma mochila cheia de créditos malparados, e que pode necessitar, como tem acontecido, de dinheiros estatais para operar.

Este valor foi pago mesmo antes da sua entrada em funções, que aconteceu em março. Além deles, Bourke recebeu 292 mil euros brutos de remuneração fixa em 2019. O montante é superior a todos os restantes seis administradores executivos do Novo Banco (com salários de 275 mil euros anuais, face a valores entre 251 e 259 mil no ano anterior), não superando apenas o do CEO, António Ramalho, cuja remuneração ascendeu a 400 mil euros (que inclui uma parcela diferida de 43 mil euros) – no ano passado, o presidente executivo auferiu 382 mil euros brutos.

Comparação anual

Ao todo, os salários a pagar ao conselho de administração executivo do banco estão nos 2,3 milhões de euros, o que, como conta o Jornal de Negócios desta sexta-feira, representa um agravamento de 7% em relação ao ano anterior (mesmo retirando o efeito da nova contratação de 2019).

Só que, nesta conta, há um efeito em 2018 que dificulta a comparação. A ex-administradora executiva Isabel Ferreira saiu em março de 2018, recebendo 462 mil euros. Cerca de 72 mil euros foram devidos a salários, mas a grande fatia deveu-se sobretudo a 390 mil pela cessação de mandato.

Individualizando, os aumentos dos administradores executivos foram em torno de 4% e 6%.

Assim, este aumento dos salários fixos dos administradores executivos em 2019 verificou-se num ano em que o Novo Banco voltou a marcar prejuízos, de 1.059 milhões de euros, ainda assim inferiores às perdas de 1.413 milhões de 2018. Foi por conta da evolução dos ativos problemáticos em 2019 que o banco precisou de mais de mil milhões de euros, com ajuda de 850 milhões dos cofres públicos (dinheiro que chegou esta semana, e que levou o primeiro-ministro a pedir desculpa ao Bloco de Esquerda, como contou o Expresso).

Remuneração variável só após 2021 (e se tudo correr bem)

Além da remuneração fixa, os administradores executivos também tiveram direito à atribuição, mas não ao pagamento, de prémios. “Os membros do conselho de administração executivo tiveram uma atribuição, diferida e condicionada à verificação de diversas condições, de remuneração variável total de 1.997 milhares de euros, em função da avaliação individual e coletiva da sua performance e de acordo com a política de remunerações para membros dos órgãos de administração e de fiscalização”.

Este montante de quase 2 milhões de euros é totalmente diferido e não há qualquer pagamento dos prémios até ao fim de 2021, já que só poderá acontecer após o fim do plano de reestruturação.

Além dos 2,3 milhões da administração executiva, também o conselho geral de supervisão auferiu 857 mil euros brutos em salários. Dos nove membros deste conselho, que supervisiona o trabalho da equipa de Ramalho, apenas cinco são remunerados, com o maior valor, 357 mil euros, a ser pago ao presidente, Byron Haynes.

Compromissos com Bruxelas põem limites

Ao contrário do que acontece nas restantes instituições portuguesas, o Novo Banco verifica um controlo nos valores que paga à sua gestão. Tem amarras trazidas de Bruxelas.

Devido às ajudas públicas recebidas, e ao plano de reestruturação que tem em curso até ao fim do próximo ano, o banco tem limitações definidas pela Comissão Europeia nos salários a pagar: até junho deste ano, não pode pagar a administradores um salário anual que seja 10 vezes superior ao salário médio anual dos trabalhadores do banco. Outra das limitações é a questão do pagamento do bónus ocorrer apenas no final do período de reestruturação.

Esta é uma das razões para que a administração do Novo Banco seja, apesar dos números, das mais mal pagas entre os bancos portugueses. Para se ter uma ideia, Carlos Tavares, o presidente da administração do Banco Montepio, de menor dimensão que o banco da Lone Star, auferiu 401 mil euros no ano passado, idêntico ao de Ramalho, e os administradores executivos receberam um salário em torno de 255 mil euros, não muito distantes dos congéneres do Novo Banco. Na CGD, o maior banco do sistema, Paulo Macedo contou, juntando fixa e variável, 485 mil euros, enquanto os executivos auferem cerca de 370 mil euros.