Economia

Covid-19. Faria de Oliveira: Quebra de 20% do PIB é “praticamente inimaginável”. “É uma bomba”

Bancos serão obrigados a fazer provisões de grande dimensão, admite líder da Associação Portuguesa de Bancos

Luís Barra

A possibilidade de uma retração do produto interno bruto (PIB) português de até 20% no segundo trimestre, como Mário Centeno admitiu à TVI, “é uma bomba”, nas palavras do presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), em entrevista à RTP3.

“Isto é muito mais do que uma recessão. Ter, como tivemos tivemos nestes meses, uma queda de 20% é praticamente inimaginável. É uma bomba”, declarou Fernando Faria de Oliveira esta segunda-feira. Uma crise que, disse, “não pode deixar de afetar o sistema bancário”.

O ministro das Finanças disse ontem, na TVI, que o segundo trimestre (abril a junho) poderá marcar uma descida de entre 16% a 20% do PIB, já que assumiu que poderá ser “quatro ou cinco vezes o máximo que caiu num trimestre”. Na totalidade do ano, contudo, a contração não chegará aos dois dígitos.

O sector bancário “está mais dotado, muito mais bem preparado do que estava na crise anterior”, continuou Faria de Oliveira na RTP3. Há “almofadas de capital, e “pode absorver parte das perdas”. “Mas tem de ter muito cuidado”, avisou.

Como já tinha dito à Rádio Observador, Fernando Faria de Oliveira sublinha que, neste contexto, “não ser fácil” à banca ter lucros – uma resposta às palavras de Rui Rio, quando disse que os bancos não podem lucrar com a crise. “A probabilidade é que vários bancos possam não estar em condições de apresentar resultados positivos”.

Uma queda do PIB desta dimensão vai “obrigar os bancos a fazerem provisões de grande dimensão”, admitiu Faria de Oliveira. Ou seja, as instituições vão ter de pôr dinheiro de lado para reconhecer logo perdas que possam vir a ter em créditos concedidos no passado. E isso tem impacto nos resultados.

De qualquer forma, o líder da APB disse que “qualquer recessão afeta profundamente a banca, quer no seu valor, quer na sua rentabilidade, quer solvabilidade, designadamente no aumento significativos dos créditos não produtivos [como malprado] e provisões que é necessário fazer”.

Aliás, Faria de Oliveira – que revelou que nos próximos dias os bancos vão lançar, em coordenação, moratórias para o crédito ao consumo, e para segunda habitação, que estavam excluídos da moratória feita pelo Governo – desenhou os efeitos de uma crise habitual. Há aumento de desemprego em sectores específicos, há uma crise de finanças públicas (mais défice e mais dívida), há uma deterioração da balança corrente, há uma diminuição do rating de Portugal e dos bancos – o que aumenta os custos de financiamento. E há depois a parcela das empresas que não conseguem satisfazer os seus compromissos perante a banca.

“A dimensão [da crise] vai depender da recuperação”, disse ainda, adiantando que o Governo e os supervisores têm atuado para impedir uma derrocada de grandes proporções.