Economia

Dona do Correio da Manhã ainda avalia “eventuais impactos” da desistência da compra da TVI

Paulo Fernandes, presidente-executivo da Cofina
Clara Azevedo

A Cofina está ainda a avaliar quais as implicações da desistência da compra da Media Capital, a dona da TVI. Uma das questões que separa a dona do Correio da Manhã da Prisa diz respeito aos 10 milhões de euros que foram avançados como caução, e que estão ainda à guarda de um banco. A empresa portuguesa defende que não tem de os pagar – e a empresa espanhola já disse que vai agir contra a Cofina.

No relatório e contas relativo a 2019, tornado público esta quinta-feira 9 de abril, é dito que “o Grupo Cofina encontra-se a avaliar os eventuais impactos, se algum, decorrente” do falhanço daquela que seria a maior operação do mundo dos media nos últimos anos.

A empresa dirigida por Paulo Fernandes deixou pelo caminho o aumento de capital de 85 milhões de euros que iria realizar para financiar parcialmente a compra da Media Capital, que iria custar 123 milhões. Ora, a Cofina só conseguiu 82 milhões de euros e cancelou o aumento de capital mesmo faltando apenas 3 milhões de euros, “tendo especialmente em consideração a recente e significativa deterioração das condições de mercado”, devido à pandemia de covid-19.

Este aumento de capital era uma condição obrigatória para a compra de 95% da Media Capital à Prisa, pelo que a oferta caiu. A Cofina ainda quis que a Prisa aceitasse baixar o preço, devido a uma “inesperada e muito significativa degradação da situação financeira e perspetivas da Vertix e da Media Capital, especialmente agravadas pelo presente contexto de emergência causado pela pandemia Covid-19", e ao "comportamento da Prisa, que incorreu em violações contratuais graves e, por último, manifestou expressamente a intenção de não cumprir o contrato, o que afetou irremediavelmente a relação de confiança entre as partes”.

A Prisa recusou sempre as acusações e anunciou que iria agir contra a empresa que, além do Correio da Manhã, detém a CMTV, o Record, o Jornal de Negócios e a Sábado.

Um dos pontos que causa a separação entre as duas partes é o adiantamento de 10 milhões de euros, que servia de caução ao contrato de compra e venda da Media Capital – montante que fez com que a dívida líquida da Cofina subisse para 44,9 milhões em 2019. Este dinheiro está numa conta de depósito “sob controlo de uma instituição financeira”, não identificada, segundo a Cofina. A Prisa considera que aquele dinheiro lhe pertence, sendo que Paulo Fernandes contesta.

Estas ações não são as únicas questões que estão por resolver. A Cofina aguarda ainda a autorização da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) para deixar cair a oferta pública de aquisição que iria lançar sobre a Media Capital, para comprar os cerca de 5% que não pertenciam à Prisa.