Numa nova reunião de emergência, o comité de política monetária do banco central norte-americano decidiu esta segunda-feira ampliar a intervenção no mercado. Aboliu o teto de 700 mil milhões de dólares e o limite temporal do final deste ano para o programa de aquisição de ativos (vulgo QE, de quantitative easing).
Agora, a Reserva Federal (Fed) realizará as compras no montante "que for necessário", lê-se no comunicado publicado meio hora antes das bolsas abrirem em Nova Iorque. Apesar desta decisão histórica, que não foi tomada sequer aquando da crise de 2008, Wall Street continuava com os dois principais índices no vermelho.
O programa de aquisição de ativos - de dívida pública emitida pelo Tesouro e de títulos correspondentes a créditos hipotecários emitidos por agências semi-governamentais (conhecidas pela sigla MBS de mortgage backed securities) - deixa de ter limites -- de montante e de tempo.
Com o atraso no Congresso norte-americano na aprovação de um superpacote de impulso orçamental, que já aponta para 1,6 biliões de dólares (€1,5 biliões), e na eminência de mais uma sessão de derrocada em Wall Street, a equipa de Jerome Powell voltou a agir.
A 15 de março, numa outra reunião de emergência num domingo, a Fed havia decidido cortar a taxa diretora de novo para o mínimo, no intervalo entre 0% e 0,25%, e avançar com um programa massivo de aquisição de ativos de 700 mil milhões de dólares (€648 mil milhões) até final de 2020, 500 mil milhões para títulos do Tesouro e 200 mil milhões para MBS.
Mais tarde, o Banco Central Europeu avançou com um programa especial de 750 mil milhões de euros até final do ano. A Fed, agora em Washington, deu esta segunda-feira o passo em frente. Não há limites.
A Fed decidiu ainda esta segunda-feira avançar com a criação de dois instrumentos financeiros novos (um dirigido ao mercado primário da dívida empresarial e outro ao secundário) para, na prática, adquirir indiretamente obrigações empresariais, e reativar o programa TALF - acrónimo para Term Asset Based Securities - para apoiar a emissão de ABS, um instrumento que usara na crise de 2008. Os três instrumentos poderão movimentar 300 mil milhões de dólares (€280 mil milhões). O passo de criação dos dois instrumentos para o mercado primário e secundário da dívida empresarial é encarado como um novo capítulo na política monetária da Fed. Em 106 anos de existência, o banco central norte-americano fura um tabu e entra num terreno que tradicionalmente é considerado território da política orçamental.