Economia

Bolsas. Europa abre no vermelho, apesar de mudança de estratégia da Comissão e de Merkel

Depois de ganhos de quase 4% na sexta-feira passada, as praças europeias abriram esta segunda-feira com quedas. Índice Dax em Frankfurt cai 4%, apesar de governo alemão abrir cordões à bolsa e Bruxelas ter suspendido regras de ouro orçamentais

A trajetória das bolsas na Europa mudou de sentido. Depois de fecharem a semana passada com ganhos de 3,6% na sexta-feira, as praças europeias abriram esta segunda-feira no vermelho.

Amesterdão, Frankfurt, Milão e Londres estão a cair mais de 4% na abertura desta sessão. O índice PSI 20, em Lisboa, cai mais de 1%.

A sessão desta segunda-feira já fechou na Ásia, com uma hecatombe na bolsa de Mumbai, onde os índices colapsaram quase 13%, depois do aviso de que a Índia se pode tornar um novo foco mundial do coronavírus. A rupia, a moeda indiana, caiu para um mínimo histórico face ao dólar.

Sydney perdeu 5,6%, depois de ter estado a cair 8%, e Xangai (a segunda bolsa mais importante da região) recuou 3%, apesar dos prognósticos do Banco Popular da China que a economia chinesa retoma já no segundo trimestre. O índice MSCI para a região caiu 3,2%.

Apenas Tóquio (a maior praça da região) registou esta segunda-feira ganhos de 2%, depois de uma conjugação de ações do Banco do Japão (duplicou a compra de ETF no mercado para o equivalente a 101 mil milhões de euros) e do governo nipónico que anunciou um plano de resposta à crise equivalente a 258 mil milhões de euros (a ser concretizado pelo governo e pelos privados).

Merkel abandona dogma do défice zero

O índice alemão Dax perde 4,8%, apesar do governo de Angela Merkel, que entrou de quarentena, ter avançado com um orçamento federal suplementar de 156 mil milhões de euros e com um Fundo de Estabilização Económica de 200 mil milhões de euros. Os estados alemães avançam, por seu lado, com um pacote de 55 mil milhões.

O ministro das Finanças, o social-democrata Olaf Scholz, admitiu, pela primeira vez, que o orçamento germânico vai temporariamente deixar de respeitar a regra de ouro que proíbe défices (schwarze Null , défice zero) face a uma previsão governamental de uma recessão de 5% em 2020.

Face à pandemia do coronavírus, a Comissão Europeia, entretanto, suspendeu as regras de ouro orçamentais para todos os membros da União (teto do défice e objetivo de médio prazo para a consolidação orçamental) e deverá discutir um mecanismo financeiro que sirva de rede às economias do euro que envolva o Mecanismo Europeu de Estabilidade (onde se alojam os fundos de resgate do tempo da crise das dívidas soberanas) e o programa OMT do Banco Central Europeu (BCE) lançado por Mario Draghi em 2012, mas nunca ativado.

Banqueiros centrais, entre eles Carlos Costa, defendem coronabonds

Membros do BCE, como o vice-presidente Luis de Guindos, François Villeroy de Galhau, governador do Banco de França, e Carlos Costa, governador do Banco de Portugal (num artigo publicado na semana passada em Portugal e noutro agora enviado à Reuters), já defenderam o lançamento de eurobonds (obrigações europeias), os coronabonds. O governo espanhol apoiou esta medida. Guindos voltou a defender a ideia numa entrevista ao canal espanhol La Sexta este domingo.

No mercado secundário da dívida pública, as taxas (yields) das obrigações portuguesas a 10 anos estão em queda, tendo aberto abaixo de 0,9%, o nível de sexta-feira passada. O anúncio do superprograma do BCE de 750 mil milhões de euros (um envelope especial a adicionar ao programa normal de aquisição de ativos) estancou o ataque especulativo às dívidas dos periféricos do euro. As taxas das obrigações portuguesas a 10 anos chegaram a um pico de 1,6% a 18 de março, antes do anúncio do programa especial de 750 mil milhões.

Choque petrolífero invertido

O preço do barril de petróleo continua em queda, com a cotação do Brent a abrir a sessão europeia abaixo de 26 dólares, estando em mínimos de 17 anos.

Os analistas da World Oil já admitem que esta crise petrolífera gerada pelo choque geopolítico entre Riade e Moscovo (que puseram fim à aliança entre o cartel da OPEP e a Rússia) possa integrar a galeria dos choques petrolíferos invertidos (quebra de preços) mais graves da história do ouro negro.

As esperanças de uma aliança entre os produtores do Texas e a OPEP para a coordenação de cortes na oferta também se estão a desvanecer, segundo a Bloomberg. Aquele estado norte-americano está no epicentro do petróleo a partir do xisto que revolucionou o mercado petrolífero e tornou os EUA num exportador e num produtor disputando o lugar cimeiro com a Arábia Saudita e a Rússia.