A burla num balcão em Espanha, que afetou um grupo de quase 80 clientes, vai ter custos para o Novo Banco, segundo admite o próprio presidente executivo da instituição financeira, António Ramalho, em entrevista à RTP1.
“Se me pergunta qual é a dimensão… Deixe-me dizer-lhe, com a minha experiência de 30 anos na banca, certamente que [aquilo a] que seremos chamados é muito menos do que se anuncia e sempre muito mais do que devia ser”, respondeu Ramalho, não querendo comentar se o caso pode custar 50 milhões de euros – o número que, segundo a imprensa, é reclamado pelos clientes afetados.
A história sobre a burla foi revelada pelo jornal regional "El Correo", ganhando dimensão em Portugal após notícia do jornal Eco: Jacobo Vidal, funcionário do banco, geria fortunas de grandes clientes a partir de um balcão em Santander, e ofereceu um produto que prometia retornos de investimento até 14% – mas ocultava as perdas, nos relatórios periódicos enviados aos clientes, calculando o retorno apenas através do recebimento de entradas de novos clientes, e não através do desempenho do produto financeiro por eles subscrito.
O esquema em pirâmide estendeu-se por mais de uma década, representando agora perdas de dezenas de milhões de euros. Os clientes reclamam, segundo o Eco, 50 milhões de euros – ao jornal, o banco respondeu que pretendia “atender aos direitos legítimos dos seus clientes afetados e exercer todas as ações legais que lhe assistam para defender os interesses dos mesmos clientes e os interesses da própria entidade”. A ressarcir, pagará apenas o capital investido e não os altos juros prometidos.
À RTP1, Ramalho frisou que o caso está “confinado a um balcão”, que encerrou em dezembro - terá sido depois disso que o funcionário admitiu a fraude. E disse que o “funcionário já é ex-funcionário”. As autoridades espanholas estão a investigar.
Segundo o Eco, Ramalho e o administrador Vítor Fernandes foram a Espanha para acompanhar o dossiê de perto. Um dossiê que, segundo o banco, já está a ser alvo de uma investigação interna e também de uma “auditoria forense externa”.
Parlamento quer mais respostas sobre Novo Banco
Este caso é mais uma polémica em torno do banco que está a ser escrutinado por uma outra auditoria a atos de gestão (a lei a isso obriga quando há injeções estatais). Os resultados deste exercício feito pela Deloitte deverão ser conhecidos pelo banco em maio. E é também mais um caso judicial envolvendo o Novo Banco, cuja origem se deveu à intervenção do BES, alvo de operações que continuam a ser investigadas pela justiça portuguesa.
O Novo Banco registou, em 2019, um prejuízo de mais de mil milhões de euros, o sexto consecutivo de perdas. Terá de pedir 1.037 milhões de euros ao Fundo de Resolução (que pedirá 850 milhões aos cofres públicos) para repor os rácios de capital.
Sobre estes números, depois da entrevista ao Expresso no passado sábado ("já estamos no Cabo da Boa Esperança", "algumas comissões não têm qualquer utilidade", "espero que a qualidade da auditoria reflita o preço" e "o tribunal arbitral trabalhará num período de cerca de nove meses"), António Ramalho deu esta semana a referida entrevista à RTP1, mas ainda dará mais explicações aos portugueses, desta vez através do Parlamento.
Na semana da apresentação dos prejuízos, Ramalho mostrou disponibilidade aos deputados para responder a dúvidas sobre os números. O Partido Socialista aproveitou e fez o requerimento, chamando o líder do banco herdeiro do BES. A audição foi aprovada por todos os partidos na comissão de Orçamento e Finanças esta quarta-feira.