Economia

Bolsas perderam €7 biliões em fevereiro. Por culpa do 'cisne negro' surgido em Wuhan

O crash provocado pelo coronavírus chinês saldou-se em fevereiro numa queda de 8,2% no índice mundial das bolsas. Na zona euro, as bolsas caíram 9%, a região com maior queda percentual. Preço do petróleo desceu 14%

O cisne negro foi a imagem simbólica usada por Nassim Taleb, um matemático e trader de Wall Street, para descrever eventos impossíveis de prever. Até 1697 os europeus julgavam que só existiam cisnes brancos
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O coronavírus chinês provocou uma derrocada bolsista em fevereiro à escala global que deu um 'rombo' estimado de €6,9 biliões (7,6 biliões de dólares) na capitalização mundial. O equivalente à soma do PIB da Alemanha, França e Espanha.

O novo coronavírus surgiu em Wuhan na China e já entrou para a galeria de 'cisnes negros', a metáfora criada por Nassim Taleb para eventos inesperados com consequências disruptivas nos mercados financeiros e na economia. Ironia do acaso, o 'cisne negro' derivado do novo coronavírus (a que está associada a doença batizada de Covid-10) teria na sua origem um morcego-de-ferradura-grande comercializado no mercado de animais vivos daquela cidade chinesa.

Depois de uma queda em janeiro de 1,2%, o índice mundial MSCI afundou-se 8,2% em fevereiro, segundo dados divulgados este fim de semana pela empresa de análise financeira MSCI (ex-Morgan Stanley Capital International). Uma queda muito superior aos dois mais recentes solavancos nas bolsas em maio e agosto de 2018. O índice mundial abrange 23 mercados desenvolvidos (entre eles a bolsa de Lisboa) e 26 emergentes (incluindo as duas bolsas chinesas).

A capitalização mundial rondava os 93 biliões de dólares em final de janeiro, tendo em conta os dados da World Federation of Exchanges, que abarca todas as bolsas do planeta.

Com o crash de fevereiro, a capitalização mundial caiu para valores próximos dos de setembro do ano passado.

A região com maior quebra percentual em fevereiro foi a zona euro. O índice MSCI para esta região caiu 9,1%, uma derrocada superior à verificada em Nova Iorque, onde o índice MSCI respetivo perdeu 8,3%. A queda em Lisboa do índice PSI 20 foi de 9,3%.

Em Nova Iorque, Wall Street registou uma verdadeira quinta-feira negra a 27 de fevereiro com o índice Dow Jones 30 a registar o maior colapso (em pontos) da sua história e o índice de volatilidade a atingir níveis próximos dos de agosto de 2011.

Fed travou crash ainda maior

O final do mês poderia ter sido ainda mais dramático em Wall Street se a Reserva Federal dos EUA não tivesse publicado ao início de sexta-feira à tarde uma declaração do seu presidente Jerome Powell garantindo que o banco central usará "todas as ferramentas" para apoiar a economia norte-americana, cujos "fundamentos continuam sólidos".

Donald Trump acrescentaria, depois, que espera que a "Fed se envolva" e "em breve". Os futuros da taxa diretora do banco central norte-americano - que está no intervalo entre 1,5% e 1,75% - apontam para três cortes da taxa até ao verão, começando já na próxima reunião a 18 de março, com uma redução de 50 pontos-base do custo do dinheiro para o intervalo entre 1% e 1,25%. Até agosto, a taxa diretora deveria cair para 0,5% a 0,75%, segundo o mercado de futuros rastreado pela CME.

Muitos investidores esperam que ocorra, mesmo que informalmente, uma resposta coordenada dos principais bancos centrais do mundo à ameaça sobre as economias. Na próxima semana, as reuniões dos bancos centrais da Austrália e do Canadá vão ser seguidas com a máxima atenção. Nas duas semanas seguintes, realizam-se as reuniões do Banco Central Europeu (a 12 de março) e da Fed (a 18 de março), que vão discutir novas previsões para a inflação e crescimento.

Apesar do epicentro do novo coronavírus se situar na China e da primeira vaga de contágio abranger a Ásia, as bolsas da região perderam 6,1% em fevereiro, segundo o índice MSCI para a Ásia Pacífico, uma quebra percentual muito inferior à registada globalmente.

A região que registou o crash mais profundo em fevereiro foi a América Latina, com o índice MSCI respetivo a perder 12,4%.

Petróleo lidera descida de preços nas matérias-primas

Nos mercados de matérias-primas, o preço do barril de petróleo liderou as quedas em fevereiro. O preço do Brent (variedade europeia) caiu 14% e a cotação do WTI (norte-americano) desceu 13%. A cotação do Brent caiu no final do mês para 50 dólares, um nível de preços que já não se observava desde o verão de 2017.

Duas matérias-primas destacaram.se nas subidas em fevereiro: o paládio, um metal raro indispensável para os catalisadores dos automóveis que é mais caro do que o ouro, e o café.

Apesar do pânico financeiro reforçar, em regra, a corrida aos valores refúgios, o preço do ouro subiu em fevereiro apenas 0,2%, pois os investidores decidiram vender para poderem realizar liquidez.

A corrida aos valores seguros provocou uma queda acentuada dos juros dos títulos do Tesouro norte-americano a 10 anos que desceram para novos mínimos históricos tendo fechado fevereiro em 1,16%. As obrigações alemãs a 10 anos, outro valor refúgio, caíram ainda mais em terreno negativo, tendo fechado em -0,6%.