Economia

PIB revisto em alta: afinal Portugal cresceu 2,2% em 2019

Os dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística esta sexta-feira indicam que a economia portuguesa cresceu 2,2% no ano passado, um número acima dos 2% avançados pela autoridade estatística há duas semanas. Tudo por causa da revisão dos dados provisórios relativos a 2018, que tiveram implicações positivas também no ano passado

STEPHANIE LECOCQ/EPA

É uma nova surpresa no crescimento da economia portuguesa no ano passado. Depois de há duas semanas o INE ter avançado na estimativa rápida o valor de 2% para a expansão do PIB - acima da previsão do Governo - esta sexta-feira vem rever esse valor em alta, indicando que, afinal, a economia cresceu 2,2% em 2019.

A explicação é de índole metodológica. "Os dados provisórios de 2018 foram revistos devido sobretudo à incorporação de nova informação da Balança de Pagamentos", diz o INE. Assim, "face às estimativas anteriores, os novos resultados determinaram uma revisão em alta de 0,2 pontos percentuais das taxas de variação do PIB em 2018, para 2,6% em volume", indica a autoridade estatística.

Uma revisão com impactos positivos nos números de 2019. "Esta nova informação implicou também uma revisão em alta de 0,2 pontos percentuais da variação em volume do PIB em 2019, divulgada na Estimativa Rápida para o 4º trimestre", frisa o INE.

Como resultado, apesar da economia portuguesa ter abrandado no ano passado - o crescimento de 2,2% compara com 2,6% em 2018 -, acaba por crescer bem acima de todas as projeções das principais organizações nacionais e internacionais.

Projeções que apontavam para uma expansão do PIB entre 1,9% e 2%, com o Governo a inscrever a estimativa de 1,9% no cenário macroeconómico que serviu de base à construção do Orçamento do Estado para este ano. Afinal, o crescimento ficou acima do antecipado pela equipa do ministro Mário Centeno.

Consumo abranda, mas investimento acelera

Na base desta evolução da economia estiveram evoluções díspares das principais componentes do PIB. O consumo privado abrandou, com o crescimento de 2,3% em 2019 a comparar com 2,9% em 2018. Os economistas já tinham vindo a antecipar esta moderação do consumo, que, nos últimos anos, tinha vindo a crescer acima do PIB e do rendimento disponível.

Um abrandamento que ficou a dever-se, em grande medida, à componente de bens duradouros, que cresceu apenas 0,8% no ano passado, quando em 2018 tinha registado uma expansão de 6,1%. Uma evolução que reflete "sobretudo a diminuição das despesas com a aquisição de veículos automóveis", explicita o INE.

Já em sentido inverso, o investimento acelerou, aumentando 6,5% em termos reais (6,2% em 2018). Uma aceleração que, segundo o INE, reflete "a aceleração da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) para uma taxa de variação de 6,4% (5,8% no ano precedente)".

A FBCF é o indicador-chave considerado pelos economistas para avaliar a evolução do investimento, e o INE destaca, a este nível, a "aceleração pronunciada" da FBCF em construção, que passou de uma expansão de 4,6%em 2018, para 9,4% em 2019.

Já o crescimento da FBCF em outras máquinas e equipamentos perdeu fulgor, passando de 8,2%, para 4,7%. E a componente de equipamento de transporte registou mesmo uma contração de 4,6%, depois de ter crescido 5,6% em 2018.

Frente externa agrava-se

Depois de em 2018 já ter dado um contributo negativo para a taxa de variação do PIB, o impacto da procura externa líquida na economia portuguesa em 2019 foi ainda pior. O contributo negativo de 0,6 pontos percentuais em 2019, compara com um contributo negativo de 0,4 pontos percentuais em 2018.

É o resultado da perda de fulgor das exportações, apesar de as importações também terem abrandado.

As exportações de bens e serviços cresceram 3,7% no ano passado (dados em volume), o que compara com 4,5% em 2018. Tudo por causa da perda de gás da componente de serviços - onde o turismo tem um peso determinante - que, apesar de continuar a crescer, subiu apenas 3,8%. Em 2018 essa expansão tinha sido de 6,3%.

Já as exportações de bens mantiveram uma taxa de variação de 3,7% em volume, indica o INE.

Quanto às importações de bens e serviços, aumentaram 5,2% em 2019, o que compara com 5,7% em 2018. As importações de bens abrandaram, com um incremento de 4,5% (menos 1,2 pontos percentuais do que em 2018), enquanto as importações de serviços ganharam força, subindo 8,6% (5,9% em 2018).