Economia

Segundo dia de pânico em Wall Street por causa do Covid-19

As duas bolsas de Nova Iorque fecharam esta terça-feira de Carnaval com uma queda de 3%, superior à da Europa. É o segundo dia consecutivo com perdas desta envergadura. Juros a 10 anos em mínimo histórico

As duas bolsas de Nova Iorque voltaram a fechar esta terça-feira no vermelho pelo segundo dia consecutivo com perdas de envergadura, de 3%.

As quedas no NYSE e no Nasdaq foram inclusive superiores às registadas esta terça-feira de Carnaval na Europa.

O Dow Jones 30 fechou a perder 3,15%, o S&P 500 caiu 3,03% e o Nasdaq recuou 2,77% na sessão desta terça-feira. O índice MSCI para a praça de Nova Iorque (abrangendo as duas bolsas, o NYSE e o Nasdaq) caiu 3%. O índice de pânico financeiro - conhecido pela designação de VIX - subiu 11,27%. As quedas nos índices referidos e o disparo no índice VIX foram inferiores às de segunda-feira, mas continuam a ser elevadas. Na segunda-feira, o índice MSCI para os EUA caiu 3,3%.

Os analistas falam da continuação do "banho de sangue" em Wall Street e no Nasdaq depois de Donald Trump ter declarado que lhe parecia que o mercado de ações estava "muito bom" e do seu secretário do Conselho Económico Nacional, Larry Kudlow, ter afirmado que é altura para o investidor de longo prazo aproveitar para comprar neste ambiente de quebras bolsistas.

O índice do grupo de 10 estrelas tecnológicas cotadas em Nova Iorque, conhecido pela designação FAANG Plus (abrangendo Facebook, Amazon, Apple, Alphabet/Google, Netflix, Nvidia, Twitter, Tesla e as duas chinesas Alibaba e Baidu), perdeu esta terça-feira 2,5%. Desde o pico a 19 de fevereiro já caiu 10,3%. As tecnológicas são particularmente sensíveis às disrupções em curso nas cadeias globais de fornecimento derivadas das paragens de produção na China e em outros países asiáticos e nos atrasos na logística. Recorde-se que a China domina 34% das exportações mundiais no sector dos computadores e outros equipamentos de tecnologias de informação, segundo a IHS Market.

O impacto nas rotas marítimas a partir da China pode ser medido pelo índice dos fretes de exportação via contentores do porto de Xangai (Shangai Containerized Freight Index), que está há nove semanas em queda. Este índice caiu 2,5% na semana de 17 a 21 de fevereiro e já deslizou 13% desde início do ano.

Choque do coronavírus aproxima-se do impacto negativo do Brexit

O sentimento de medo voltou a instalar-se entre os investidores depois do Center for Desease Control and Prevention dos Estados Unidos ter avisado que é "inevitável" que a epidemia do coronoavírus chinês chegue a solo americano. A dimensão dos surtos na Coreia do Sul, Itália e Irão alimentam também este pânico financeiro.

À escala mundial, o índice MSCI global, abrangendo todas as bolsas, perdeu 2,3%, menos do que na segunda-feira, quando perdeu perto de 3%, um recorde desde o choque do Brexit a 24 de junho de 2016.

O choque do Covid-19 nas bolsas à escala mundial nas últimas quatro sessões já provocou um 'rombo' de 6,5%, quase tanto como o impacto negativo do Brexit a 24 e 27 de junho de 2016, que se cifrou numa queda de 7%.

Economia dos EUA pode resvalar para recessão

A consultora britânica Oxford Economics avançou esta terça-feira que, mesmo sem um cenário de pandemia global, o crescimento do PIB norte-americano poderá cair para 1,5% em 2020 (de 2,3% em 2019) face a 2% previsto pelo Fundo Monetário Internacional. Num cenário mais pessimista, com uma pandemia global, o PIB dos EUA poderá levar um corte de 1,7 pontos percentuais, empurrando a economia para uma recessão.

No mercado da dívida pública norte-americana, os juros (yields) dos títulos a 10 anos caíram para um novo mínimo histórico de 1,307% durante a sessão, abaixo do anterior mínimo de 1,321% registado em julho de 2016. Fecharam em 1,344%, claramente abaixo das taxas para os títulos de muito curto prazo, a 30 dias, três e seis meses. A curva de taxas dos títulos está, assim, parcialmente invertida, com os investidores a exigirem juros mais elevados na dívida de curto prazo do que na de longo prazo.