Já há dois anos que os mercados de ações à escala mundial não caíam tanto. Desta vez, a 'culpa' é do coronavírus chinês, o COVID-19.
O índice mundial MSCI, englobando todas as bolsas do planeta, perdeu na segunda-feira 2,96%. Um tombo idêntico ao que registara a 5 de fevereiro de 2018, quando os investidores começaram a temer que a Reserva Federal norte-americana iria encarecer o custo do dinheiro (o que, de facto, sucedeu a partir de março).
A quebra desta segunda-feira (e de 5 de fevereiro de 2018) é a segunda maior depois do afundamento global do índice mundial em 4,8% a 24 de junho de 2016, na sequência do choque provocado pela vitória do Brexit no referendo realizado no Reino Unido, o primeiro 'cisne negro' que marcaria 2018 (a que se sucedeu depois a vitória de Donald Trump nas presidências nos EUA a 6 de novembro).
O pior desempenho bolsista esta segunda-feira registou-se na zona euro, com o índice MSCI respetivo a perder 3,9%. A segunda maior quebra do dia ocorreu em Nova Iorque, com o índice MSCI para as duas bolsas (NYSE e Nasdaq) a recuar 3,35%. A Ásia Pacífico perdeu apenas 2,7%, pois a principal bolsa da região, em Tóquio, esteve encerrada devido ao feriado do aniversário do imperador nipónico. Na reabertura desta terça-feira, o índice japonês Nikkei 225 caiu 3,3%.
Depois da quebra desta segunda-feira, todos os índices MSCI regionais (Europa, Ásia Pacífico, América Latina) passaram a registar perdas desde início do ano, com exceção de Nova Iorque (a praça mais importante do mundo, com as duas bolsas com maior capitalização), que ainda está acima da linha de água (com um ganho ligeiro de 0,26%).
Convergência de más notícias
O pânico financeiro marcou esta segunda-feira, com os índices VIX a disparar, em virtude da conjugação de vários factores negativos associados ao COVID-19, a designação do coronavírus surgido em Wuhan na China no final do ano passado.
O surto nos últimos dias do coronavírus na Coreia do Sul, Irão e em Itália (zona vermelha do surto abrange 40% da produção industrial e 50% das exportações do país) juntou-se à admissão por parte da Organização Mundial de Saúde de que há o mundo se deve preparar para a possibilidade de uma pandemia global do COVID-19.
O choque provocado por este primeiro 'cisne negro' de 2020 começa, entretanto, a ter números vermelhos. Na reunião do G20 em Riade no fim de semana, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional ter admitido que o crescimento mundial poderá ter um corte de 0,1 pontos percentuais em relação ao cenário base avançado em janeiro que apontava para um crescimento de 3,3% em 2020.
Kristalina Georgieva disse aos ministros das Finanças e banqueiros centrais do mundo . reunidos na capital saudita, que o Fundo já reviu em baixa o crescimento da China em 2020 para 5,6%, em vez dos 6% previstos em janeiro. Por seu lado, o Centro Europeu de Investigação Económica ZEW alemão avançou com uma previsão de crescimento da economia chinesa ainda mais pessimista do que a do FMI: 5,4% para 2020 e 4,2% para o primeiro trimestre do ano.
Quatro economias no radar
Os analistas têm sob observação quatro economias vitais no mundo: China (onde tudo indica haverá em 2020 uma desaceleração significativa em relação ao crescimento de 6,1% em 2019), Japão (que recebeu uma herança de uma contração de 1,6% no último trimestre de 2019). Alemanha (que estagnou nos últimos quatro meses do ano passado) e Itália, o elo mais fraco da zona euro (que poderá entrar em recessão técnica no primeiro trimestre deste ano, depois do PIB ter caído 0,3% entre setembro e dezembro do ano passado).
Entretanto, Donald Trump em visita à Índia, tuitou que "o mercado de ações para mim começa a parecer-se muito bom", no mesmo dia em que Wall Street caía mais de 3%. Uma avaliação que Larry Kudlow, diretor da Comissão Económica Nacional da Casa Branca, completou em declarações ao Washington Post: "se é um investidor de longo prazo, deve seriamente considerar comprar nestas quebras". Em suma, o afundamento das bolsas é o momento ideal para adquirir ações (nomeadamente de empresas sólidas) em queda.