A Boeing divulgou esta quinta-feira centenas de mensagens internas com comentários muito críticos sobre o desenvolvimento do 737 MAX. Num deles diz-se que o avião foi “projetado por palhaços que, por sua vez, são supervisionados por macacos”, noticia a agência Reuters.
Numa troca de mensagens instantâneas a 8 de fevereiro de 2018, quando o avião ainda estava operacional e oito meses antes do primeiro de dois acidentes fatais, um funcionário pergunta a outro: “Colocavas a tua família numa aeronave treinada num simulador MAX? Eu não.” O outro funcionário responde também que não.
As mensagens, que a empresa afirmou terem sido divulgadas a bem da transparência com a Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla inglesa), mostram uma cultura agressiva de corte de custos e desrespeito pela agência governamental norte-americana, escreve a Reuters. Além disso, a sua divulgação deverá aprofundar a crise na Boeing que tenta voltar a colocar no ar o 737 MAX e recuperar a confiança do público.
O novo CEO, David Calhoun, que assume os comandos da empresa na próxima segunda-feira e já herda uma situação delicada, ficará sob uma pressão ainda maior.
Mensagens “não refletem a empresa que somos e precisamos de ser”
O modelo está impedido de voar desde março de 2019 após um voo da Ethiopian Airlines ter caído, apenas cinco meses depois de um acidente semelhante com a Lion Air. Os dois desastres provocaram a morte de 346 pessoas.
O Departamento de Justiça dos EUA tem uma investigação criminal em curso sobre questões relacionadas com o modelo de avião.
A FAA considerou que “o tom e o conteúdo de alguma da linguagem contida nos documentos são dececionantes”, acrescentando, ainda assim, que as mensagens não suscitam novas preocupações de segurança.
A Boeing classificou as mensagens como “completamente inaceitáveis” e sublinhou: “Elas não refletem a empresa que somos e precisamos de ser.”
“Ainda não fui perdoado por Deus pelo encobrimento do ano passado”
Só esta semana a Boeing arrepiou caminho quanto aos esforços para evitar o treino de pilotos em simuladores. A fabricante de aviões manteve até aos últimos dias que o procedimento, além de dispendioso e demorado, era desnecessário, uma vez que o 737 MAX é muito semelhante ao seu antecessor.
Noutras trocas de emails e mensagens instantâneas, funcionários falaram da sua frustração com a cultura da empresa, queixando-se da propensão para encontrar os fornecedores mais baratos e aplicar “horários impossíveis”.
Em maio de 2018, um funcionário desabafava: “Ainda não fui perdoado por Deus pelo encobrimento do ano passado”. Sem referir o que encobriu, acrescentou: “Não posso voltar a fazê-lo. As portas do céu ficarão fechadas...”
O novo CEO da Boeing, David Calhoun, assume os comandos da empresa na próxima segunda-feira, 13 de janeiro, substituindo o anterior que foi demitido na sequência dos problemas de reputação que vêm afetando o grupo.