Economia

OCDE também vê Portugal a abrandar. Só o Governo prevê uma aceleração em 2020

O Economic Outlook da OCDE publicado esta quinta-feira projeta um crescimento da economia portuguesa de 1,9% este ano, 1,8% em 2020 e 1,7% em 2021. Todas as principais organizações nacionais e internacionais apontam para um abrandamento no próximo ano. Governo é a exceção.

Mário Centeno, ministro das Finanças
JULIEN WARNAND/EPA/lusa

A economia portuguesa vai perder gás nos próximos anos antecipa a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Economico (OCDE). No Economic Outlook publicado esta quinta-feira, as previsões para a economia nacional aponta para um crescimento de 1,9% este ano, 1,8% em 2020 e 1,7% em 2021.

A OCDE junta-se assim ao coro das principais organizações nacionais e internacionais, que, em menor ou maior grau, projetam um abrandamento da economia nacional em 2020. A única voz dissonante é a do Governo. No esboço orçamental enviado para Bruxelas, em outubro, a equipa do Ministério das Finanças projeta uma aceleração do ritmo de expansão do Produto Interno Bruto no próximo ano, para 2%.

Em relação a este ano, a OCDE destaca que “a procura interna é o principal impulsionador do crescimento económico”. O documento constata que, apesar do aumento da incerteza sobre as condições externas e tensões comerciais, “os indicadores de confiança para os serviços, consumidores e construção estabilizaram, indicando alguma resiliência em relação a desenvolvimentos externos negativos”.

Como resultado, a OCDE até melhorou ligeiramente a sua previsão para o crescimento da economia portuguesa este ano, de 1,8%, para 1,9% - uma alteração a que não será alheia a alteração metodológica efetuada pelo Instituto Nacional de Estatística as contas nacionais, com o ano base a passar de 2011 para 2016, e que levou à revisão em alta das taxas de crescimento nos últimos anos. A projeção da OCDE está, assim, alinhada com a maioria das organizações nacionais e internacionais.

Já em relação aos próximos anos, a expetativa da OCDE é de abrandamento em 2020, ainda que ligeiro, com a economia a voltar a abrandar em 2021. Muito por causa do consumo privado. “Apesar da baixa inflação e condições financeiras acomodatícias, o crescimento dos gastos das famílias deverá abrandar devido a alguma moderação no crescimento do emprego e à estabilização do crescimento dos salários”, lê-se no relatório.

Aliás, a organização está agora mais conservadora nas suas perspetivas sobre a evolução do mercado de trabalho, nomeadamente no que toca à descida da taxa de desemprego. Em maio apontava para uma taxa de desemprego em Portugal de 6,3% este na, recuando para os 5,9% em 2020. Agora, aponta para 6,5% este ano, seguindo-se descidas muito ligeiras para 6,4% em 2020 e 6,3% em 2021.

Quanto ao investimento, também deve perder gás no próximo ano, mas a OCDE antecipa uma aceleração em 2021.

Já do lado da frente externa, a projeção é de que apesar de uma procura fraca, “as exportações devem continuar a crescer devido a ganhos de competitividade suportados por um crescimento moderado dos custos unitários do trabalho”.

Os riscos são claros, a começar por uma deterioração adicional das perspetivas de crescimento na União Europeia. Até porque a OCDE antecipa que o crescimento na zona euro permaneça modesto, "com poucas perspetivas de uma recuperação ao longo dos próximos dois anos".

A que se somam fatores como a continuação da incerteza por causa do Brexit, que pode afetar o comércio e o turismo e a vulnerabilidade da banca a choques financeiros, devido aos ainda elevados níveis de crédito mal parado.

À beira do equilíbrio orçamental


Quanto às contas publicas, a OCDE está alinhada com o Governo: aponta para um défice de apenas 0,1% este ano, sinalizando uma situação de equilíbrio orçamental em 2020. “É esperado que a política orçamental se mantenha prudente com um orçamento quase equilibrado em 2019-2021, o que equivale com uma posição orçamental basicamente neutra”, aponta o documento.

Neste cenário, o peso da dívida pública no PIB “deve continuar a diminuir”.

A OCDE deixa um conselho ao ministro das Finanças, Mário Centeno: “Aumentar a eficiência da despesa pública vai suportar a constituição de almofadas orçamentais para enfrentar choques inesperados e o impacto orçamental do envelhecimento populacional”.

O tema da corrupção e da Justiça, que fez correr rios de tinta no último ano a propósito das análises da OCDE sobre a economia portuguesa, não é esquecido pela organização sedeada em Paris: “Melhorar a eficiência judicial e reduzir os trados judiciais, bem como diminuir as barreiras regulatórias em indústrias em rede e serviços profissionais, permanece crucial para estimular o investimento produtivo”, vinca a OCDE.