A última reunião do conselho do Banco Central Europeu (BCE) a que presidiu Mario Draghi saldou-se por dois apelos políticos, um interno, para uma "forte unidade", e outro, externo, dirigido aos governos da zona euro com margem orçamental para avançarem com políticas de estímulos "a tempo" e que sejam eficazes.
As atas da reunião de política monetária de 23 e 24 de outubro em Frankfurt foram esta quinta-feira publicadas, uma tradição que foi inaugurada por Draghi em fevereiro de 2015 com a divulgação da discussão da decisão de avançar com um amplo e massivo programa de compra de dívida pública na reunião anterior de 21 e 22 de janeiro. Recorde-se que este programa se iniciou em março daquele ano e viria a ser descontinuado em dezembro de 2018, para voltar a ser reativado a partir de 1 de novembro der 2019.
O apelo à unidade surge tanto mais importante quanto a reunião de setembro revelou divergências muito acentuadas quanto ao reinício do programa de compra de ativos e ao agravamento da taxa negativa de remuneração dos depósitos dos bancos. "Foi feito um forte apelo à unidade do Conselho do BCE. Embora tenha sido sublinhado que as discussões abertas e francas no Conselho do BCE são absolutamente necessárias e legítimas, foi considerado importante que se forme um consenso e que haja unidade em torno do compromisso do Conselho do BCE em alcançar a meta de inflação", referem as atas.
Christine Lagarde sucedeu a Draghi na chefia do BCE a partir de 1 de novembro. Ela vai estrear-se na direção da primeira reunião de política monetária a 11 e 12 de dezembro, quando os técnicos apresentarão também as últimas projeções do ano.
Estímulos orçamentais são indispensáveis
No plano externo, houve um consenso para reiterar o apelo aos outros responsáveis por políticas - leia-se os governos - para que "contribuam de uma forma mais decisiva no apoio à economia da área do euro".
As atas referem que o apelo se dirige "em particular, à política orçamental, nomeadamente por parte dos governos com espaço orçamental [leia-se sobretudo Alemanha e Holanda], que têm de desempenhar um papel mais destacado" face ao abrandamento da economia na zona euro e aos riscos que se mantêm.
Tanto mais que os banqueiros centrais concluíram em outubro que as "fraquezas" da zona euro poderão durar por "um período mais longo do que o antecipado" nas previsões dos técnicos do BCE analisadas na reunião de setembro.
O conselho de banqueiros centrais concluiu até que "não há sinais ainda de uma aceleração do crescimento antecipada nas previsões" apresentadas em setembro.
Contudo, nesta reunião de outubro, a posição adotada foi de "esperar para ver" os efeitos do pacote de medidas tomadas em setembro.
Ainda esta semana. Philip Lane, o economista-chefe do BCE e responsável pela análise da conjuntura e as opções de política monetária na reunião de outubro, sublinhava, em entrevista ao jornal italiano La Repubblica, que o multiplicador orçamental é "bastante alto" nas circunstâncias atuais.
O irlandês pretende convencer os países com margem orçamental - ou seja, sobretudo a Alemanha e a Holanda - que o gasto público terá um efeito elevado. "Num mundo de inflação baixa e de baixas taxas de juros, acreditamos que os multiplicadores orçamentais nas condições atuais são bastante altos se existir espaço orçamental", disse Lane. E concluiu que era necessário mudar de estratégia orçamental: "Durante muito tempo, o foco predominante foi em como garantir que os altos níveis de dívida diminuíssem. Mas, em algum momento, essa mudança de orientação tem de ocorrer para os países que obtiveram sucesso".
Esta semana, a Comissão Europeia na apreciação dos projetos de orçamento para 2020 dos países membros fez a mesma recomendação e o secretário-geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico secundou o apelo esta quinta-feira na apresentação do Economic Outlook da organização.