A Juul Labs, uma das maiores startups do mundo que comercializa e desenvolve tecnologia para cigarros eletrónicos, vai entrar em Portugal em outubro - um mercado que conta com 1,6 milhões de fumadores adultos e em que o tabaco é responsável por 10% das mortes (dados da GfK). A aposta faz parte da expansão da empresa que já opera em 11 países da Europa, entre os quais se encontram o Reino Unido, França, Itália, Suíça e Espanha.
Apresentando-se como uma alternativa aos cigarros de combustão, os cigarros eletrónicos da Juul são um sistema fechado com cápsulas (pods) que, segundo a empresa, não pode ser adulterado. Com tecnologia e um design patenteado de controlo de temperatura, estes não contêm tabaco nem geram combustão, mas contêm nicotina, uma substância viciante.
A gigante tecnológica vai colocar estes dispositivos em cerca de quatro mil pontos de venda em Portugal continental, como postos de abastecimento de combustível, lojas de conveniência e tabacarias. Além disso, passa a ter no país uma equipa de vendas e um diretor-geral, Nelson Patrício.
Fundada em 2015 em São Francisco, pela mão dos ex-fumadores e especialistas em design James Monsees e Adam Bowen, a Juul Labs nasce alegadamente da sua insatisfação “com os impactos sociais e de saúde dos cigarros”. Foi assim que surgiu este dispositivo de tecnologia a vapor em sistema fechado que, de acordo com Nelson Patrício, pretende “melhorar a vida dos fumadores adultos, eliminando os cigarros”.
A empresa com sede em Londres cita a Public Health England, departamento do ministério da Saúde do Reino Unido, e entidades como a American Cancer Society, o ministério da Saúde da Nova Zelândia e a Faculdade de Medicina do Reino Unido para justificar a sua crença de que os cigarros eletrónicos são menos prejudiciais que o tabaco tradicional.
Mas esta não é uma visão consensual. A Juul Labs entra no mercado português numa altura em que os cigarros eletrónicos estão na mira das autoridades de saúde dos Estados Unidos (EUA), na sequência da morte de seis pessoas e de terem sido reportados, em 33 estados norte-americanos, 450 casos de doenças pulmonares agudas “potencialmente relacionadas” com estes dispositivos.
Embora as autoridades ainda não tenham detetado um um único “dispositivo, produto ou substância” que esteja na origem das mortes (que podem estar relacionadas com a mistura de outras substâncias), recomendam à população para “não utilizar cigarros eletrónicos enquanto a [atual] investigação estiver a decorrer”. E alertam para o facto de não estar ainda provado que os cigarros eletrónicos são menos prejudiciais para a saúde, uma vez que ainda não se consegue antever os seus efeitos a longo prazo e que não existem estudos robustos que indiquem que estes são mais eficazes para deixar de fumar.
Jovens: da “publicidade enganosa” às “medidas rigorosas”
Outra preocupação nos EUA é o crescente número de jovens que estão a aderir aos cigarros eletrónicos - nomeadamente a dispositivos tecnológicos, com um design apelativo e fáceis de usar, como os da Juul e outros concorrentes. Neste contexto, as autoridades de saúde federais norte-americanas acusaram a Juul Labs de ter feito “publicidade enganosa aos seus produtos”, apresentando-os como uma alternativa mais saudável aos cigarros tradicionais, incluindo nas escolas.
É por isso que a Juul assevera, em comunicado divulgado esta quinta-feira, que “tem medidas rigorosas para impedir o acesso dos jovens aos produtos”. “O lançamento em Portugal irá seguir a regras da Juul Labs para venda ao público, garantindo a correta informação aos consumidores e evitando o acesso a menores de idade”, acrescenta.
De que forma? Estando ausente das redes sociais, selecionando criteriosamente os retalhistas e efetuando um rigoroso controlo de idade, adianta a empresa.
“Todos os pontos de venda terão de cumprir a política de verificação de idade da Juul Labs, segundo a qual qualquer cliente que pareça menor de idade deve apresentar um documento de identificação comprovando ter mais de 18 anos”, lê-se no comunicado. Os pontos de venda serão auditados por responsáveis da empresa e, se forem apanhados em falso três vezes, deixam de poder vender os dispositivos da Juul.
O produto vai ser disponibilizado em Portugal em conformidade com a diretiva de produtos de tabaco da União Europeia (UE) relativamente à concentração máxima de nicotina (20mg/ml). Assim, em Portugal as cápsulas (pods) estarão disponíveis com dois níveis diferentes de nicotina: 9 mg/ml e 18 mg/ml.
Em Portugal, estarão à venda quatro sabores distintos: baunilha, menta, manga e tabaco. Mas nos EUA os sabores podem desaparecer. O Presidente Donald Trump anunciou esta quarta-feira, durante uma reunião na Casa Branca, que os cigarros eletrónicos com sabores vão ser retirados do mercado.
Avaliada em 50 mil milhões de dólares, segundo dados da CB Insights, a Juul Labs é um dos maiores unicórnios do mundo. No final do ano passado, captou um investimento de 12,8 mil milhões de dólares da fabricante de cigarros Altria, que passou a assumir uma participação de 35% no capital da empresa.