A Caixa Geral de Depósitos (CGD) recebeu luz verde do Banco Central Europeu (BCE) para alienar a sua unidade espanhola, o Banco Caixa Geral, ao também espanhol Abanca. A operação dá 135 milhões de euros ao banco público. E esse valor vai engordar as contas do primeiro semestre deste ano.
Paulo Macedo anunciou, na conferência de imprensa de apresentação de resultados realizada em julho, que o lucro obtido até junho foi de 283 milhões de euros. Só que o valor pecou por defeito. O montante efetivo é 417,5 milhões, 47% acima.
Esta diferença de 135 milhões de euros deve-se à operação de venda da filial espanhola ao Abanca, anunciada esta segunda-feira, 9 de setembro, em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
“Considerando as informações atualmente disponíveis, o impacto estimado na valorização desta participação com referência a 30 de junho de 2019 é positivo em 135 milhões de euros no resultado líquido do período e nos capitais próprios consolidados da CGD, decorrente do ajustamento, ao valor da venda, das imparidades registadas nas contas da CGD no final de 2017”, adianta a nota.
“Deste modo, o resultado líquido com referência a 30 de junho de 2019 será de 417,5 milhões de euros. Neste cenário, o rácio CET1 passa de 14,8% para 15,1% (‘fully loaded’, incluindo o resultado líquido do primeiro semestre)”, especifica o documento.
Caixa continua em Espanha, mas (muito) mais pequena
A operação, com a não oposição de Frankfurt, deverá ser finalizada até outubro. “A luz verde do BCE é o último requisito para que se possa terminar a aquisição, que será encerrada formalmente nas próximas semanas com a assinatura do contrato de compra e venda”, indica o comunicado enviado pelo Abanca. A integração jurídica e financeira entre o espanhol Abanca, que ganhou espaço em Portugal com a compra do retalho do Deutsche Bank, e o ainda designado Banco Caixa Geral, será realidade no primeiro trimestre de 2020.
O acordo de compra previa o pagamento de 364 milhões de euros pelo banco espanhol da Caixa, mas o preço seria sempre ajustável, sobretudo ao calendário. É a diferença entre este valor e o montante registado no balanço do banco português que definiu os 135 milhões de euros de mais-valia.
O banco estatal ficará presente em Espanha através de uma sucursal, que, ao contrário da filial, que era autónoma e tinha administração própria.
Para trás, ficaram perdas da Caixa no país que, segundo contabilizou a revista Sábado, terão chegado a perto de mil milhões de euros.
O processo de venda em Espanha correu em paralelo com a alienação do Mercantile Bank, na África do Sul. Juntos deveriam dar mais-valias de 200 milhões de euros à Caixa (135 milhões já estão, com o anúncio de hoje, contabilizados).
Mais atrasado está o processo de venda no Brasil (em que já há três interessados convidados a apresentar ofertas vinculativas) e Cabo Verde.
A instituição financeira tem de promover estas operações por conta do plano estratégico assumido junto da Comissão Europeia, depois da capitalização que envolveu 3,9 mil milhões de euros estatais.