Economia

Brexit. Sogrape antecipa encomendas e faz cobertura cambial

A Sogrape respondeu ao Brexit com a aquisição da distribuidora local Liberty Wines. O Reino Unido permanecerá como "uma montra importante" dos vinhos de todo o mundo.

A Sogrape conta com o Mateus Rosé para resistir às adversidades do Brexit
Rui Duarte Silva

Antecipação de encomendas e coberturas cambiais, eis duas medidas da Sogrape para garantir o abastecimento dos clientes do Reino Unido, com o Brexit em pano de fundo.

O conglomerado da família Guedes respondeu às adversidades do Brexit com uma "operação histórica", tomando em junho uma posição maioritárias na distribuidora londrina Liberty Wines. A operação "simboliza um ato de coragem numa época de incerteza", explicou na altura a empresa.

A Sogrape "permanece otimista quanto à evolução do mercado e à sua posição no Reino Unido", encarando o investimento na Liberty Wines numa "lógica de longo prazo".

No setor dos vinhos, o Reino Unido permanecerá "como uma grande montra internacional", justifica a empresa.

Constrangimentos inevitáveis

Após a saída do Reino Unido da União Europeia, "os constrangimentos são inevitáveis". As medidas adotadas servem "para evitar ou atenuar tais constrangimentos". Num contexto de saída desordenada, "os principais afetados serão os negócios baseados no preço". Porque resistirão pior "às tarifas aduaneiras e à provável desvalorização da moeda", adverte a Sogrape.

Como o vinho é um produto "altamente regulamentado", os efeitos do Brexit serão mais suaves, em comparação com outras categorias de produtos.

A Sogrape acentua que "o modelo de negócio da Liberty Wines" combina a "oferta de um portfolio de vinhos de qualidade de todo o Mundo", com "um apoio técnico (de education) único" que lhe assegura "uma posição confortável".

O Reino Unido é o quarto principal mercado da Sogrape, beneficiando da popularidade do seu Mateus Rosé.

Mercado reexportador

Para Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal, é já visível uma alteração relevante no mercado vinícola britânico, decorrente da incerteza do Brexit. As distribuidoras britânicas reorientam-se para outros mercados, "reforçando o seu caráter reexportador e assumindo uma maior protagonismo no comércio de vinho".

Após a turbulência do Brexit, os consumidores britânicos podem tentar-se pela oferta do novo mundo, no caso dos vinhos europeus passarem a ser taxados.

O governo de Theresa May assumira o compromisso de manter o atual regime fiscal e aduaneiro e aceitar procedimentos simplificados. Mas, nada agora está adquirido. E o mercado poderá conhecer "uma nova repartição de quotas", com o reforço de posição dos vinhos do Chile, Nova Zelândia ou África do Sul.

Em 2018, a exportação de vinho português para o Reino Unido valeu 74 milhões de euros - 55% resulta do vinho do Porto, o mais afetado se o Brexit correr mal.

Nesse ano, a venda de vinho de mesa prosperou ( mais 235 mil caixas ou 4,7 milhões de euros), compensado a queda acentuada de Porto (menos 203 mil caixas e 7 milhões de euros).

No primeiro semestre de 2019, a situação inverteu-se: a exportação de Porto regista uma subida fulgurante de 30%. As restantes categorias estão em modo de redução, mas em todos os casos o preço médio está em alta.