Economia

Venda de grandes créditos dão perdas adicionais de €106 milhões ao Novo Banco este ano

Créditos com valor original de 2,7 mil milhões foram vendidos pelo Novo Banco por 190 milhões de euros.

JOSÉ FERNANDES

A venda de grandes créditos que estão na carteira do Novo Banco, os mais mediáticos oriundos da época do Banco Espírito Santo, vai causar perdas de 106 milhões de euros à instituição financeira em 2019. Tudo porque os créditos foram vendidos com um desconto de 35% face ao valor líquido a que os empréstimos estavam registados no seu balanço. Face ao valor contabilístico, ou seja, sem contabilizar as perdas já verificadas ao longo dos anos, o desconto é de 89%.

Segundo um comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), foi celebrado o contrato de compra e venda do chamado projeto Nata II com a Burlington Loan Management, que pertence à americana Davidson Kempner, confirmando o que ontem foi revelado pela agência Bloomberg.

“O valor de venda da carteira ascendeu a 191 milhões de euros, estando a carteira transacionada sujeita a ajustamentos de perímetro usuais nestas transações até à sua concretização”, indica o documento divulgado esta quinta-feira, 5 de setembro.

Esta operação terá um impacto negativo nos resultados deste ano do Novo Banco no valor de 106 milhões de euros. Isto porque os créditos foram vendidos com desconto significativo.

Descontos de 35% e de 90%. Como?

A carteira vendida, com cerca de 50 devedores, tem um valor original de 2.732 milhões de euros, mas o valor bruto contabilístico é da ordem dos 1.713 milhões. Ou seja, o conjunto de créditos de Ongoing, Sogema (Moniz da Maia), Controlinveste ou ex-Escom (Legacy), entre outros, tinha um valor original superior ao montante contabilístico bruto – isto porque há compromissos, garantias e, inclusive, alguns dos créditos até já tinham sido reconhecidos como perdidos (“write offs”).

Assim, o preço da venda tem um desconto associado de 89% face ao valor contabilístico bruto.

Só que o valor contabilístico bruto não representa aquilo que o banco esperava receber dos créditos por si concedidos. Aos créditos, os bancos associam a constituição de imparidades para adequar a sua avaliação à expetativa de recuperação. E grande parte destes créditos já tinha imparidades, daí que o seu valor líquido estivesse na ordem dos 300 milhões de euros. É por isso que o desconto face ao valor líquido é de 35%, segundo fonte do banco.

É pela diferença entre o valor líquido e o valor de venda que se chega ao impacto negativo nas contas deste ano. Assim, os resultados do banco herdeiro do BES vão ser penalizados por esta operação em 2019 – no primeiro semestre, o Novo Banco tinha já registado perdas de 400 milhões de euros.

Estes ativos vendidos estão cobertos pelo mecanismo de capitalização contingente, pelo que as perdas registadas nos valores dos ativos, se afetarem os rácios de capital do Novo Banco, vão obrigar a acionar o pedido de capital ao Fundo de Resolução – que ainda tem 2 mil milhões de euros para desembolsar à luz do acordo fechado com a Lone Star.

Menos empréstimos vendidos

Nesta carteira, acabaram por ser comercializados menos empréstimos do que aqueles que constavam inicialmente na carteira. O valor contabilístico bruto inicial dos 61 créditos colocados no portefólio era de 3,3 mil milhões. Foram vendidos créditos com 2,7 mil milhões. Tudo porque o Novo Banco decidiu retirar alguns créditos que estavam na carteira: foram retirados cerca de 10, segundo fonte da instituição financeira. Fê-lo porque havia melhores propostas individuais do que o que conseguiria nesta venda em bloco.

“O Novo Banco prevê que a transação se conclua nos próximos meses, assim que reunidas todas as condições necessárias à sua formalização. Esta transação representa mais um importante passo no processo de desinvestimento de ativos não produtivos (NPA – ‘non-performing assets’) e permitirá acelerar a sua redução”, acrescenta o Novo Banco. O rácio de malparado era de 20,7% em junho e, com a concretização desta operação, poderá descer vários pontos percentuais para 15%, de modo a aproximar-se das metas impostas pelo Banco Central Europeu.