Pela primeira vez, Alemanha e Holanda registam taxas (yields) abaixo de zero na dívida a 30 anos. Toda a curva de juros da dívida no mercado secundário destes dois países está, esta segunda-feira, em terreno negativo. Portugal ampliou os juros negativos até ao prazo de 7 anos.
No fecho da semana passada, as taxas negativas para a dívida alemã e holandesa terminavam no prazo a 25 anos. No caso das obrigações portuguesas, as yields abaixo de zero estendiam-se até ao prazo de 6 anos.
O agravamento das perspetivas da conjuntura mundial, depois da nova escalada na guerra comercial anunciada por Trump na semana passada terminando abruptamente a segunda trégua com a China, leva os investidores a aceitar taxas abaixo de zero para deterem dívida na Europa. O líder nas taxas negativas é a Suíça, que regista, desde sexta-feira, juros abaixo de zero até ao prazo de 50 anos.
Recessão na Alemanha "inevitável"
Um indicador do pessimismo atual é o índice da consultora alemã Sentix que publica semanalmente em Frankfurt o resultado de uma sondagem junto de 5000 investidores em 20 países.
O índice para a zona euro, divulgado esta segunda-feira, está no nível negativo mais baixo desde outubro de 2014, e as expetativas a 6 meses caíram para o nível negativo mais baixo desde agosto de 2012. Para a Alemanha, o índice está no nível negativo mais baixo desde agosto de 2009 e a Sentix conclui que "uma recessão na Alemanha é inevitável".
A nível global, o índice Sentix entrou agora, pela primeira vez este ano, em terreno negativo e está no nível mais baixo desde fevereiro de 2016.
Estados 'cobram' aos investidores
Taxas negativas de remuneração de dívida significam que os investidores "pagam" para deter títulos de dívida soberana e que os Estados se endividam sem pagar juros aos credores. Pelo contrário, na atual situação em muitos prazos, o Tesouro "cobra", na realidade, para os credores terem os títulos em carteira.
A situação inverteu-se com as taxas abaixo de zero - o devedor não paga juro e o credor paga uma "taxa" para deter o "privilégio" de ter títulos soberanos. Os investidores consideram mais "seguro" pagar para ter obrigações do Tesouro com taxa negativa do que aplicar o dinheiro em outros ativos.
Uma conjuntura com um tão vasto leque de taxas negativas na dívida emitida pelos estados europeus é uma estreia em termos históricos.